Reunidos
“Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles”, afirma Jesus. A concórdia, a vida fraterna e reconciliada é um sinal claro da presença de Deus. Esta condição se concretiza na medida em que há o contínuo esforço de corrigir o que há de errado, o reconhecimento dos pecados, o perdão e o restabelecimento das relações rompidas. “De novo, eu vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus”. O biblista R. Fabris comenta esta afirmação e diz: “O acento desta parábola evangélica não é tanto sobre a oração comunitária quanto sobre a concórdia, literalmente o grego disse “sinfonia” ou “sintonização” reencontrada. Esta dá eficácia à oração dos irmãos (…) Uma comunidade reconciliada e orante é o lugar da definitiva presença de Deus revelando-se como salvador e Senhor em Jesus”.
A Liturgia da Palavra, deste segundo domingo do Mês da Bíblia (Ezequiel 33,7-9, Salmo 94, Romanos 13,8-10 e Mateus 18,15-20), coloca os leitores e ouvintes da Palavra de Deus diante do tema da correção fraterna, o meio eficaz para restabelecer a fraternidade e a unidade. Na Bíblia, mesmo os grandes personagens, necessitaram ser corrigidos. Eles sabiam da vontade de Deus, todavia permaneciam falíveis. Deixaram-se corrigir e por isso levaram a bom termo a sua missão. Recordemos alguns exemplos: Moisés é corrigido pelo sogro Jetro por causa da metodologia de atendimento do povo; Davi é repreendido por Natã depois da morte de Urias; o profeta Elias é corrigido depois de usar métodos violentos para anunciar o verdadeiro Deus; Pedro várias vezes teve que rever seus posicionamentos e o mesmo acontece com São Paulo. Por deixarem-se corrigir restabeleceram a harmonia e puderam continuar a sua missão.
Jesus apresenta uma situação aos discípulos e propõe uma metodologia inspirada no amor ao próximo. “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão. Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. Se ele não vos der ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público”.
O desejo de corrigir o “irmão que pecar contra ti” não é uma reação à ofensa que se foi vítima, mas movida pelo amor ao irmão. Santo Agostinho comenta: “Aquele que te ofendeu, ao ofender-te, causou em si mesmo uma ferida grave, e não te preocupas tu pela ferida de um teu irmão? (…) Deves esquecer a ofensa que recebeste, mas não a ferida de um teu irmão”. O profeta Ezequiel ensina se alguém errou e não for advertido, quem não adverte torna-se corresponsável pela morte do irmão.
Jesus insiste na metodologia da correção fraterna. Antes de expor alguém em público ou excluir, se faz necessário preservar quem errou. Uma progressão de medidas – falar pessoalmente, assessorar-se de uma terceira pessoa, envolver a comunidade – permitem fazer um processo curativo e de reconciliação. Jesus também é realista, admitindo que tudo isto não garante que o pecador se arrependa, mas a parte ofendida não ficou indiferente, pois desejou ajudar.
Os ensinamentos da Carta ao Romanos são sábios na construção da “sinfonia” entre as pessoas. “Irmãos: Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei. (…) O amor não faz nenhum mal contra o próximo”.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo