Rever nosso estilo de vida

 

Vivemos numa sociedade marcada pelo desempenho, a qual prima pela positividade ilimitada no corpo, nas construções, nas experiências. No lugar da lei, dos mandamentos, das regras ou dos limites, entram os projetos, as iniciativas, e a motivação.

Realmente, a sociedade da proibição, que regulava tudo, a chamada sociedade disciplinar, produziu loucos e delinquentes. Por outro lado, essa performance exagerada das baladas, do consumo, do poder e da informação sem limites está produzindo medo, incerteza e cansaço.

Não se trata de ser pessimista nesta reflexão, mas é preciso abrir os olhos, deixar de vivermos distraídos e anestesiados, sendo capazes de rever nosso estilo de vida e, mesmo que a positividade do poder seja mais eficiente do que a negatividade do dever, o poder não cancela o dever.

As queixas e lamentos de quem reclama de tudo só se tornam possíveis numa sociedade que crê que nada é impossível. Nessa sociedade do desempenho, a pessoa entra em guerra consigo mesma. Vivemos num excesso de estímulos, informações e impulsos.

O exagero na distração e na falta de reflexão, contemplação e pensamento crítico está nos animalizando.  O animal não pode refletir e discernir a partir do que tem diante de si, pois precisa estar atento ao que tem atrás de si. E isso gera uma atenção ampla e rasa.

Esse estilo de vida aproxima a vida humana da vida selvagem. Pura inquietação não gera nada de novo, reproduz e acelera o já existente.

Hoje carecemos de tempo para descansar, repousar e até admirar a realidade. Não nos espantamos com quase mais nada. Para o filósofo Nietzsche: “por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie”.  E para o coreano Byung-Chul Han, “A perda moderna da fé não diz respeito apenas a Deus e ao além, mas à própria realidade, que torna a vida humana radicalmente transitória. Jamais foi tão transitória como hoje”.

Essa rapidez em tudo o que fazemos, sem pensar muito em quem somos e onde estamos, tem gerado nervosismos e inquietações. Urge que vivamos com mais descanso, paciência e um olhar demorado e contemplativo sobre a realidade.  É ilusão supor que, quanto mais ativos, nos tornamos mais livres.  Byung-Chul Han sustenta que a sociedade do cansaço se caracteriza por um desempenho sem desempenho. O ser humano se torna uma máquina de desempenho de esgotamento excessivo. É um cansaço que não vê o outro, por “eu” me torno o outro: o outro tornar-se igual a mim

Por isso, é um cansaço sem mundo, pois o “eu” se torna o mundo de cada indivíduo, então, se destrói o mundo e os recursos, e não se considera o futuro das novas gerações, que deverão resolver a questão da sustentabilidade diante da crise de uma geração que foi tão prepotente que não transmitiu aos jovens a herança recebida de seus antepassados.  Nosso estilo de vida pode ser outro.

 

Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3