Romeiros da Salette rezam por paz e reconciliação

Marcelino Ramos – No contexto do Ano Nacional do Laicato e da Campanha da Fraternidade sobre a superação da violência, os romeiros de N. Sra. da Salette, no Santuário homônimo, em Marcelino Ramos, pediram a Deus a reconciliação e a paz, por intercessão da Reconciliadora dos pecadores, neste último domingo de setembro, 30, Dia Nacional da Bíblia para a Igreja Católica. Em dia que amanheceu com chuva e teve momentos de sol, um número surpreendente de devotos da Salette participou de missas no interior do Santuário, da confissão na capela da reconciliação e especialmente da procissão da igreja São João Batista, no centro da cidade, até a montanha do espaço da tradicional peregrinação, onde houve missa campal, presidida pelo Bispo diocesano de Erexim, Dom José Gislon, e concelebrada por quatro padres saletinos, um deles representando seu superior provincial, um diocesano de Erexim, um padre da Congregação dos palotinos de Coronel Vivida, PR, e dois do Paraguai que vieram com uma caravana de quase 100 devotos.

Em sua homília na missa campal da Romaria da Salette, Dom José iniciou lembrando que todos os romeiros estavam junto da imagem de Maria em lágrimas para colocar sua vida com sofrimentos e alegrias diante da Mãe de Jesus. Confidenciou que ele próprio lá estava como peregrino para confiar à Mãe de Cristo seus 30 anos de vida presbiteral e seis de ministério episcopal. A partir do tema da Romaria, “Salette, ensina-nos a reconciliação e a paz”, ressaltou que os discípulos e missionários de Cristo não podem deixar de trabalhar por uma sociedade reconciliada e pacificada, que respeite as minorias e olhe os pobres com dignidade e respeito, como fez Jesus. “Não fazê-lo seria grave omissão”, disse.

Para Dom Gislon, as feridas da violência, visíveis e invisíveis, não podem ser curadas com atitudes que expressam raiva e vingança. É necessário união para a superação de todas as formas de incompreensão, de intolerância, de preconceito e de ódio, que estão sendo alimentadas na sociedade brasileira. O bispo exortou a todos abrirem o coração à misericórdia de Deus e a deixar-se reconciliar. “Que os pais e jovens não tenham medo de pedir e de oferecer o perdão para a união pacífica na família e na comunidade. Que ninguém perca a oportunidade oferecida por Deus de sarar feridas, de estender pontes, de eliminar diferenças, de desativar os ódios, de renunciar às vinganças e de abertura à convivência fraterna, baseada no amor, no perdão e na reconciliação que constrói a paz. Na triste época atual, quando a mentira, a violência e a corrupção inundaram tudo, numa enxurrada de males, a fé faz entrever, a Virgem misericordiosa, intermediária da paz entre Deus e as pessoas, como a um arco-íris, que lembra a promessa de Deus após o dilúvio de sempre lembrar-se de sua aliança com a humanidade”.

No momento das preces comunitárias, houve o canto da ladainha a N. Sra. da Salette, na qual ela é invocada como a serva de Deus, aquela que chora sobre os filhos ingratos, a que recorda a Palavra de Deus, desperta responsabilidades, carrega as correntes da injustiça, aquela que está ornada da glória de Deus, vive atenta aos abandonados, permanece junto à cruz dos que sofrem como esteve na do seu Filho Jesus. No final da missa, os romeiros foram convidados a acompanhar o bispo na oração de consagração a N. Sra. da Salette, na qual se confia a vida a ela e se pede que acolha a súplica de todos, interceda o perdão de seu Filho, a fidelidade ao seu Evangelho e a proteção ao longo da vida. Antes da bênção conclusiva, padre Isidro Perin, representando o superior provincial da Congregação dos Missionários da Salette, agradeceu a Dom José por sua presença no dia 19 de setembro, na celebração da aparição de Nossa Senhora, e na Romaria; aos voluntários da Romaria, às diversas caravanas. Destacou a presença do coral da igreja da Salette de Curitiba e que em breve estará em Roma num encontro de corais que terá a participação do Papa. Dom José, por sua vez, agradeceu aos padres saletinos por sua presença e atuação na Diocese e em muitos lugares do Brasil, especialmente pelas missões populares. Manifestou seu reconhecimento a todos os romeiros e romeiras por sua participação de fé e piedade nas celebrações da Romaria.

A direção do Santuário da Salette lançou campanha de sua revitalização, na proximidade dos seus 75 anos. A primeira etapa visa melhorar os espaços de maior fluxo das pessoas, tais como o fac-símile (local das imagens na parte externa, entre o Santuário, o altar campal e a capela da reconciliação) a fonte de água, as calçadas, o velário e o claustro entre o Santuário e o Seminário.

Abaixo, na íntegra, a homília de Dom Gislon

Romaria de N. Senhora da Salette – 30/9/2018
Tema: Salette, ensina-nos a viver a reconciliação e a paz

Com estima, saúdo o Pe. Renoir Dalpizol, Reitor deste santuário, e através dele saúdo todos os padres, religiosos e religiosas, os noviços e seminaristas aqui presentes. Saúdo o senhor Juliano Zuanazzi, digníssimo prefeito deste município e todas as autoridades civis e militares aqui presentes ou representadas. Com estima, saúdo os romeiros e romeiras, que vieram de outros Estados e das várias regiões do Rio Grande do Sul, para manifestar, diante da Senhora da Salette, devoção filial e espírito de fé no seu filho Jesus. Saúdo a todos os que nos acompanham através da Rádio Salette e outras emissoras ou pela Internet. Com amor e estima, saúdo os enfermos e seus familiares. Permitam-me fazer memória do Pe. Arlindo Daga Fávero, que partiu para receber o abraço da misericórdia do Pai no dia 17 de maio passado, ele que por mais de 30 anos foi Reitor deste Santuário.

Queridos irmãos e irmãs, neste mundo, todos nós somos peregrinos, mas hoje viemos em romaria para colocar a vida diante da ternura materna de Maria, Senhora da Salette, mãe de Jesus, o filho de Deus, mas também nossa mãe amorosa, que nos acolhe no silêncio do seu coração e nos escuta. Ela sabe que as lágrimas que rolam na face de uma mãe, de um pai, de um jovem, dos avós podem ser expressão de alegria, mas na maioria das vezes são de dor, de angústia e sofrimento. Às vezes, nem os lábios conseguem expressar a dor que sentimos no coração; por isso, preferimos, em silêncio, colocar-nos diante do olhar de ternura de Maria, que tem aquela percepção de mãe, manifestada nas Bodas de Caná e na presença silenciosa junto a seu Filho na Cruz.

Venho também como peregrino para colocar diante da Senhora da Salette os trinta anos de vida sacerdotal e seis como bispo desta Diocese de Erexim, e oferecer algumas palavras de esperança e consolo para todos os que estão aqui presentes e os que nos acompanham pelos Meios de Comunicação Social.

Salette, ensina-nos a viver a reconciliação e a paz é o tema da romaria deste ano. Neste Ano Nacional do Laicato, estamos refletindo, como comunidade de fé, sobre a participação dos Cristãos Leigos e Leigas na Igreja a na Sociedade. Pela vida nova do batismo, nos tornamos discípulos e discípulas do Senhor Jesus, e queremos caminhar com o Mestre, sendo “Sal da Terra e Luz do Mundo” (Mt 5,13-14), na sociedade.

Como cristãos, somos discípulos e discípulas do Senhor Jesus, o Príncipe da Paz e não podemos deixar de trabalhar por uma sociedade reconciliada e pacificada, que respeite as minorias e olhe os pobres com dignidade e respeito, como fez Jesus. Quando nos omitimos na promoção da reconciliação e da paz, nas nossas famílias, comunidades e sociedade, significa que nos deixamos vencer pelo pecado da omissão.

A Virgem Maria quer que promovamos a reconciliação e a paz. Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo quer que reine a paz em cada coração humano, em cada família e na comunidade. As feridas da violência, feridas visíveis e invisíveis, não podem ser curadas com atitudes que expressam raiva e vingança. Elas não apontam o caminho de Jesus.

Como cristãos, comprometidos com as palavras do Evangelho, não podemos ficar indiferentes. Devemos nos unir para superarmos todas as formas de incompreensão, de intolerância, de preconceito e de ódio, que estão sendo alimentadas na nossa sociedade brasileira.

Estimado irmão, estimada irmã, como peregrino e peregrina, não tenhas medo de abrir teu coração à misericórdia de Deus e deixa-te reconciliar. Não temas a misericórdia de Deus, a verdade e nem a justiça. Queridos pais, queridos jovens, não tenham medo de pedir e de oferecer o perdão. Não desistam de buscar a reconciliação e a paz, para se aproximarem, se reencontrarem, como irmãos, como família e comunidade, para superarem as inimizades.

Diante desta imagem da Virgem Maria em pranto, manifestemos nosso amor filial. Deus nos oferece uma oportunidade de mudarmos de vida. É chegada a hora de sarar feridas, de estender pontes, de eliminar diferenças. É hora de desativar os ódios, renunciar às vinganças e de nos abrirmos à convivência fraterna, baseada no amor, no perdão e na reconciliação que constrói a paz.

Neste momento da nossa história, atravessamos uma época triste e temos o direito de lamentarmos com as palavras do profeta Oséias: “Não há verdade, não há misericórdia, nem há conhecimento de Deus nesta terra” (Os 4,12). A mentira, a violência e a corrupção inundaram tudo. Entretanto, do meio do que se pode chamar de enxurrada de males, o olho contempla, como a um arco-íris celeste, a Virgem misericordiosa, intermediária da paz entre Deus e os homens: “Ponho meu arco nas nuvens, como sinal de aliança entre mim e a terra” (Gn 9,13).

Quando fazemos uma peregrinação, levamos no coração um propósito, que pode ser de agradecimento ou de um pedido. Mas gostaria imensamente que cada um de vocês pudesse retornar para suas casas disposto a dar uma contribuição generosa e autêntica para a reconciliação e a paz na família e na comunidade em primeiro lugar, eliminando do coração, toda forma de violência, todo sentimento de opressão sobre o seu irmão ou sua irmã. Se quiserem fazer com que a paz reine em todo o mundo façam-na reinar em seus corações, na sua família, na sua casa, na sua localidade rural, no seu bairro, na sua cidade e na nossa nação.

Que a Virgem Maria, que, em silêncio, contemplou com o seu olhar materno Jesus Cristo, agonizante na cruz, nos ajude a sermos discípulas e discípulas do Senhor da vida, que defendem a vida e promovem a justiça, a reconciliação e a paz entre os irmãos e irmãs, como sinal da presença do Reino de Deus no mundo.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.