Ruthild Brakemeier falou sobre “Maria em Martinho Lutero” para bispos e religiosos
A diaconisa Ruthild Brakemeier, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB –, proferiu uma palestra sobre “Maria e Martinho Lutero, na quarta-feira (7), à tarde, no encontro dos bispos e provinciais, no Centro de Espiritualidade Cristo Rei (Cecrei), em São Leopoldo (RS).
Inicialmente falou de suas vivências pessoais com pessoas católicas. Seu contato com a Conferência dos Religiosos do Rio Grande do Sul e a participação em seminários nacionais relacionados à “mulher consagrada”. Contou que visitou o Vaticano, em 1996, e costuma assistir pela TV missas pelo canal “Deutsche Welle”, que segundo ela, são centradas em Jesus Cristo.
Ao falar sobre o esforço para unir as Igrejas Luterana e Católica é grande. Também contou sobre sua participação, na Alemanha, dos “Dias da Igreja”, dos 100º “Dia Católico” – Leipzig em 2016 e Dia da Igreja Evangélico, em maio 2017.
Em 16 de setembro de 2016, o presidente da Conferência dos Bispos na Alemanha, Cardeal Reinhard Marx, e o Bispo do Conselho da Igreja Evangélica Luterana, Dr. Heinrich Beford-Strohm, concordaram em dizer que pela primeira vez na história das Igrejas divididas, o ano de 2017 será comemorado “em comunhão ecumênica”.
A Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, assinada em 1999, pelo presidente da FLM e a Santa Sé, afirma: “Juntos, católicos e luteranos confessam: somente por graça, na fé na obra salvífica de Cristo, e não por causa de nosso mérito, somos aceitos/as por Deus e recebemos o Espírito Santo, que nos renova os corações e nos capacita e chama para boas obras.”
“Maria e Martinho Lutero”
Segundo a diaconisa, Maria não diz “eu enalteço o Senhor”, mas: minha alma o enaltece. “Isto quer dizer, toda a minha vida, todo o meu ser, meus sentidos e minhas forças atribuem grandes coisas ao Senhor”. “… E meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Lc 1.47) O acento, segundo Lutero, neste versículo está no alegrar-se em Deus.
Para Lutero, segundo Ruthild Brakemeier, é a “forma elevada, pura, amável de amar e louvar”. Para Lutero, é preciso estar despido ou despir-se de todo tipo de arrogância e poder para acolher Deus. Assim era Maria. Assim fez Maria. Por isso ela conseguiu acolher Deus e sua mensagem. E Deus, por sua vez, contemplou na humildade de sua serva.
Olhando de cima para baixo, se compararmos Deus com Maria, Maria é um nada diante de Deus – é criatura. Olhando de baixo para cima, diante de nós, Maria é a mais perfeita criatura. Deus não precisa de Maria para nos salvar. Porém: Deus quis precisar de Maria.
Deus quis se servir de Maria para nos salvar. Deus escolheu, elegeu por graça.
Aparente contradição
Ao mesmo tempo em que Maria é criatura de Deus, recebeu de Deus uma condição privilegiada. A aparente contradição: Jesus Cristo foi 100 % homem e 100 % Deus.
Nisso Lutero acentuava: a naturalidade e humanidade do nascimento;
apesar da conceição pelo Espírito de Deus e sua descendência real (Davi), Maria aparece como mulher pobre e abandonada – para ressaltar a graça de Deus;
a majestade de Deus desce até nós.
O presépio vivo
A mensagem do anjo aos pastores: “Hoje vos nasceu o Salvador.” “Toma a criança dos braços de Maria e a coloca nos teus. Ela não foi dada apenas a Maria, mas também a mim”. Numa homilia de Natal Lutero destaca que a grandeza de Maria foi sua fé. “O verdadeiro milagre foi que a virgem Maria creu que estas coisas iriam acontecer nela”.
Lutero cita uma palavra de Santo Agostinho: “Maria foi mais bem-aventurada e agraciada pelo fato de ter concebido Cristo no coração pela fé, do que na carne.” “Não é nada que a virgem Maria carregou a criança nos seus braços; primeiramente ela teve que carregá-la em seu coração, antes de carregá-la debaixo do seu coração. Mediante este carregar na fé, ela se torna digna de carregá-la também fisicamente. Nisto ela se torna exemplo e protótipo para a nossa fé”.
Louvor de Maria no ‘Magnificat’
Ela destaca: Deus contemplou na humildade (atentou para a humildade) de sua serva – todas as gerações me consideração bem-aventurada. Outra tradução: “Olhou minha pequenez e fez-me bendita entre as nações”. O que Maria destaca em seu cântico: Sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem (vers. 50). Há um livro lançado pela Editora ‘Planeta do Brasil’ com o título ‘O nome de Deus é misericórdia’. Uma conversa do Papa Francisco com Andrea Tornielli.
O acento da graça divina fez com que os Luteranos deixassem de dar a Maria a honra e veneração devida, como mãe do Salvador. Basilea Schlink, a fundadora da “Irmandade Ev. De Maria”, diz: Lutero honrou Maria até o fim de sua vida, santificava suas festas e cantava diariamente o “Magnificat” (…) Perdeu-se na igreja evangélica (…) tudo o que nos trazia sua lembrança. Nunca poderemos exaltar suficientemente a mulher que constitui o maior tesouro da cristandade depois de Cristo.
Obras de Deus, destacadas no Magnificat
1ª Mantém sua misericórdia de geração em geração
2ª Dispersa os arrogantes e soberbos
3ª Derruba dos tronos os poderosos
4ª Exalta os humildes
5ª Sacia de bens os famintos
6ª Deixa os ricos vazios
7ª Ampara a Israel
8ª Cumpre suas promessas
Documento assinado pelo Papa Francisco
Presidente e Secretário G. da Federação Luterana Mundial e Papa Francisco, durante a Oração Comum (d.: Arcebispa Antje Jackelen, primaz da Igreja Luterana da Suécia).
Documento assinado pelo Papa Francisco e Munib Yunan, presidente da FLM, Bispo, da Igreja Luterana da Jordânia e da Terra Santa. Título: “Do Conflito à Comunhão”.
“Apelamos a todas as paróquias e comunidades luteranas e católicas para que sejam corajosas e criativas, alegres e cheias de esperança no seu compromisso de prosseguir na grande aventura que nos espera”.
“Repelimos as divergências e conflitos históricos que dificultam o ministério da reconciliação”.
O documento assume o compromisso comum de “crescer ainda mais na comunhão radicada no Batismo, procurando remover os obstáculos ainda existentes que nos impedem de alcançar a unidade plena”.
Uma única mesa da comunhão
Muitas pessoas anseiam por celebrar a Eucaristia a uma única mesa como expressão concreta da unidade plena.
O Papa Francisco expressou gratidão à Reforma por ter trazido a Bíblia para o centro da vida da Igreja e exaltou a espiritualidade de Lutero, ao colocar sua fé num Deus misericordioso que nos justifica por graça.
Para concluir, Martim Lutero seria hoje um batalhador pela união das Igrejas Cristãs.
Celebração Ecumênica
Para finalizar a palestra houve uma Celebração Ecumênica que contou com a presença presença de pastores, diaconisas, irmãs luteranas e estudantes de teologia.
Síntese realizada pelo jornalista Judinei Vanzeto – assessor de Imprensa – Regional Sul 3 da CNBB