Sal da terra e luz do mundo

Dom Aloísio A. Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul

santa-cruzO anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo, e consequentemente, a catequese catecumenal dos primeiros cristãos, estava cheia de parábolas e de comparações, ligadas à vida concreta dos fiéis em suas comunidades e aos acontecimentos históricos que os envolviam. Quando S. Mateus escreve o Evangelho aos judeus convertidos ao cristianismo, Jesus Cristo é apresentado como o novo Moisés, que anuncia a nova lei com o Sermão da Montanha, o qual começa com as Bem-Aventuranças, que fazem referência à nova identidade dos discípulos que são injuriados e perseguidos como os antigos profetas e o próprio Senhor (cf. Mt 5, 11-12). Eles agora são o “sal da terra”, com o mesmo sabor de Cristo, e a “luz do mundo”, que ilumina a partir dele, motivo de sua alegria (cf. Mt 5, 14-16). A partir da Cruz se tornam semelhantes a Cristo, que lhes mereceu a filiação divina e a nova relação com os irmãos e irmãs. O ser humano, como simples criatura, é qual Adão – ser tirado da terra (= adamah, em hebraico). Como afirma o Pe A. J. Almeida (et alii): “A cruz dá a Adão (o ser humano, cada um de nós) o seu sabor, a sua identidade de filho. Ou seja: somos sal à medida que somos filhos de Deus e irmãos, até às últimas conseqüências! Essa é a nossa ‘identidade”. E continua o mesmo autor: “Somos ‘luz’ à medida que somos ‘sal’. A relevância depende da identidade. Se não vivemos como filhos e irmãos, isto é, se não somos sal, não podemos ser luz”! (O Pão Nosso de Cada Dia, junho de 2016, p. 27).

Assim refletindo, sempre mais damo-nos conta que somos todos discípulos missionários. Somos membros de uma Igreja missionária, pois o “ser missionária” faz parte de sua essência, de sua identidade. Acolher a missão evangelizadora permanente significa cultivar o espírito de nos sentirmos enviados, de amarmos os verbos “sair” ou “ir” ao encontro dos afastados, como alerta o Papa Francisco, ao falar seguidamente em “Igreja em saída”. Para uma Igreja que deseja ser sal da terra e luz do mundo não servem a passividade e a tranquilidade dos templos.

Como já lembrava o Papa Paulo VI (1975), as formas de evangelizar são muitas: pelo testemunho da vida cristã, pela pregação viva, pela liturgia da Palavra, pela catequese, pelos diversos meios de comunicação, pelo contato pessoal no encontro com as pessoas, pelos sacramentos, pela religiosidade popular (EN 41-48). A principal e mais frutuosa, mesmo não sendo a única, acontecerá sempre através da evangelização pelo testemunho de vida, em todos os tempos e ambientes. O Papa Francisco faz apelo particular aos leigos, dizendo que cresceu a consciência da identidade e da missão dos leigos na Igreja e há maior participação nos ministérios laicais, mas acrescenta: “Este compromisso ainda não se reflete na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e econômico; limita-se muitas vezes às tarefas no seio da Igreja, sem um empenho real pela aplicação do Evangelho na transformação da sociedade” (EG 102). A Palavra do Papa nos estimule na missão de sermos sal da terra e luz do mundo, lá onde vivemos.

 

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