Santíssima Trindade: a Perfeita Comunidade

Uma saudação fraterna aos irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. Vivenciamos neste domingo, após o Pentecostes, a Solenidade da Santíssima Trindade. A fé cristã é trinitária. Cremos em Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo. Quem nos revela a Santíssima Tridade é Jesus Cristo, por meio do Seu Evangelho. Ele, o Filho de Deus, revelou que Deus é Pai, enviando aos seus discípulos, e a nós, sua Igreja, o Dom do Espírito Santo. O Cristianismo se distingue das demais religiões históricas e monoteístas, por ser uma religião que professa a fé no monoteismo trinitário, ou seja, em Deus Uno e Trino: Deus é todo Pai, Deus é todo Filho, Deus é todo Espírito Santo. Um só Deus, em três Pessoas distintas.

Prezados irmãos e irmãs. O povo de Israel, no Antigo Testamento, recorria a Deus como a figura de pai, assim como a autoridade de um pai para as famílias de Israel. Israel compreendia Deus como pai protetor, criador e libertador, conforme o exemplo das seguintes citações do livro do profeta Isaías: “Javé, tu és nosso pai. Nós somos a argila e tu és o nosso oleiro; todos nós somos obras das tuas mãos” (Is 64,7). “Tu, Javé, és nosso Pai, nosso redentor:  tal é o teu nome desde a antiguidade” (Is 63,16). Ao longo da história, o povo rezava por meio dos salmos, invocando Iahweh, o Deus de Israel, como pai: “Tu és meu pai, meu Deus e meu rochedo salvador! ” (Sl 89,27). E a leitura do livro do Êxodo, deste domingo, diz que este Deus é “misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel”. Ele “caminha conosco […], perdoa nossas culpas e nossos pecados e nos acolhe” (Ex 34,4-9).

O Evangelho, da solenidade litúrgica desse domingo, relata: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho Unigênito, para que não morra todo o que nele crê, mas tenha a vida eterna (…). Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3, 16-18). Jesus é a presença de Deus, que vem para salvar. Assim se referia o Papa Francisco, no Ano da Misericórdia: “Jesus é o rosto da misericórdia do Pai”.

Assim sendo, em seu ministério, Jesus chama Deus de Pai. Na Última Ceia, Jesus disse aos discípulos: “Saí do Pai e vim ao mundo; (…) deixo o mundo e vou para o Pai” (Jo 16,28). A Filipe, Jesus disse: “Quem me viu, viu o Pai. Como podes dizer: ‘Mostra-nos o Pai?’ Não crês que eu estou no Pai e o Pai está em mim? (…) crede-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 14,9-11). E assim Jesus rezou: “Pai, chegou a hora: glorifica teu Filho para que teu Filho te glorifique” (Jo 17,1).

Caros irmãos e irmãs. Conforme o Evangelho de Mateus, na última manifestação aos discípulos, o Cristo Ressuscitado os enviou em nome da Santíssima Trindade, dizendo: “Ide e fazei com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). Vemos, por este texto, que a fórmula batismal é explicitamente trinitária. Ser batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo significa ser introduzido na comunhão das Três Pessoas divinas, para vivermos esta mesma comunhão no dia a dia da vida.

O Apóstolo Paulo encerra a Segunda Carta aos Coríntios, texto da segunda leitura de hoje, saudando-os em nome da Trindade Santa: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com todas vós” (13,13). Paulo deseja que o amor de Deus Trindade reine entre todas as pessoas que vivem em família e na comunidade cristã.

A Sagrada Escritura revela, portanto, que há um Deus em três Pessoas e há uma íntima comunhão entre as três Pessoas da Santíssima Trindade. Essa unidade se constitui pela abertura essencial de uma Pessoa à outra, mais ainda, pela interpenetração de uma na outra de tal forma que são sempre uma com as outras. Entre as Divinas Pessoas nada há de anterior e posterior; superior ou inferior, quem é maior ou menor. Cada uma das três Pessoas está toda na outra. Cada Pessoa da Santíssima Trindade é para as outras Pessoas, é com as outras Pessoas e nas outras Pessoas. Por isso Jesus disse: “Quem me viu, viu o Pai (…) Eu estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 14,9.10). E Jesus diz, ainda: “Quando vier o Paráclito, que vos enviarei de junto do Pai, o Espírito da Verdade, que vem do Pai, ele dará testemunho de mim” (Jo 15,26).

Caríssimos irmãos e irmãs. A fé em Deus Trindade nos remete a viver em comunidade, pois a Trindade é a melhor e mais perfeita comunidade. Assim, como há uma íntima comunhão entre as três Pessoas da Trindade Santa, nós, feitos “à sua imagem e semelhança” (Gn 1,26-27), somos convidados a viver esta mesma comunhão entre nós, inseridos na comunidade de fé e comprometidos com a construção do Reino de Deus, objeto do anúncio e do serviço de Jesus Cristo.

Um bom domingo a todos e Deus os abençoe.

Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erexim – RS