Sede Santos

É certo que quando falamos de santidade, pensamos muitas vezes nos gigantes de um tempo, quase que iguais aos anjos, como se não aparentassem ser mais deste mundo. Na melhor das hipóteses, a santidade é vista como um caminho que se faz nos claustros do convento, longe do mundo dos homens e da realidade quotidiana. Nada de mais errado! Diz o autor do Livro do Levítico (Levítico 19,1-2.17-18) de onde é tirada a 1ª Leitura do próximo domingo: “Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo”; e completa a exortação: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Só na medida em que saímos de nós próprios, do nosso mundo e interesses próprios, para ir ao encontro de quem mais precisa, é aí que estamos nos tornando santos.

Na sequência destas palavras da antiga lei judaica, o Evangelho de S. Mateus (Mateus 5,38-48) mostra-nos Jesus que diz, depois das bem-aventuranças, no final do chamado “sermão da montanha”: “Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito”. Aqui, perfeição traduz-se na linha da santidade vivida na lei da caridade. Por isso, completa o seu discurso dizendo: “Não resistais ao homem mau”; “Dá a quem te pedir”; “Amai os vossos inimigos”.

Estamos diante de uma revolução na forma de amar o outro, não segundo a lógica do mais forte, do domínio opressor e do “olho por olho e dente por dente”, mas na lógica de dar a própria vida cuidando e acolhendo quem vive desamparado, marginalizado ou mais abandonado. Diante destas palavras, damo-nos conta de que a santidade cristã é a participação na santidade de Deus em Jesus Cristo, o único e verdadeiro Santo. É Ele o modelo que devemos imitar quando se trata de amar aqueles que estão ao nosso lado. Esta é a santidade comum de que tanto fala o Papa Francisco: “Vejo a santidade no povo de Deus, a sua santidade quotidiana. (…) Vejo a santidade no povo de Deus paciente: uma mulher que cria os filhos, um homem que trabalha para levar o pão para casa, os doentes, os sacerdotes idosos com tantas feridas, mas com um sorriso por terem servido o Senhor, as Irmãs que trabalham tanto e que vivem uma santidade escondida. Esta é, para mim, a santidade comum”.

Também nós somos convidados a esta santidade comum aqui e agora, na nossa realidade concreta, com o que somos e o que temos, com a nossa história de vida, ainda que seja marcada por momentos de alegria e contemporaneamente de dificuldades, fragilidades e derrotas. Somos “templo de Deus”, como diz S. Paulo na 2ª Leitura deste Domingo (1ª Coríntios 3,16-23), para nos recordar que o nosso coração de pecadores, diante da grandeza de Deus, experimenta o desejo de o imitar e não se sacia enquanto não repousa nele. Peçamos, por isso, ao Senhor, que faça de nós pessoas santas, cada vez mais simples e humildes, capazes de agir com retidão no confronto com quem vive ao nosso lado.

Dom Antônio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen