Seduziste-me, Senhor!

Setembro é o Mês da Bíblia. Não porque os outros meses não o sejam, mas para chamar a atenção sobre a importância que a Palavra de Deus tem para nós, católicos. Apenas essa expressão de Jeremias que abre a Primeira Leitura da celebração deste final de semana: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder” (Jr 20,7) dá margem a várias aplicações e questionamentos quando permitimos que essa Palavra penetre profundamente em nossos corações.

Para nós, cristãos, a Bíblia não é um simples livro ou um conjunto de livros (73), mas uma das principais formas da presença do próprio Deus. Ele se revelou e manifestou Seu projeto de salvação para a humanidade na história de Israel, que culmina com a vinda do Filho Unigênito de Deus, a Palavra feita carne: “No princípio, a Palavra já existia, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus… A Palavra tornou-se carne e habitou entre nós” (Jo 1,1.14).

Toda a Sagrada Escritura, inicialmente, foi palavra falada, transmitida oralmente. Depois, tornou-se palavra escrita. Os autores sagrados, iluminados pelo Espírito Santo, compilaram histórias, hinos, orações, cânticos, provérbios, contos populares, experiências vividas e relatos transmitidos de geração em geração. A história de Israel contém muita reflexão teológica, que precisa ser compreendida corretamente através de uma boa hermenêutica, considerando os gêneros literários e o contexto histórico.

A Bíblia não é um livro de filosofia, mas sim uma forma da presença de Deus entre os seres humanos. Por isso, podemos amá-la, permitir que ela nos impregne, acolhê-la como uma palavra viva e eficaz, que realiza aquilo que diz. Ela também fala por si mesma: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para o meu caminho” (Sl 119, 105). “Ela julga os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4, 12). “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para instruir na justiça” (2Tm 3, 16). “Recebam com mansidão a palavra em vocês implantada, a qual é poderosa para salvar as almas de vocês” (Tg 1, 21).

Jesus também fala sobre a Bíblia: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus”. Quando alguém elogiou Sua mãe, Ele respondeu: “Felizes são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a praticam”. Ao explicar a parábola do semeador, Ele disse: “Aquele que ouve a Palavra e a entende, produz fruto, cem por um, sessenta por um, trinta por um”.

O Livro que será objeto de estudo neste ano é a Carta aos Efésios, tendo como lema: “Revistam-se da nova natureza” (Ef 4,24). Trata-se de um texto profundamente centrado na pessoa de Jesus e que marca a vida daqueles que, na fé, se propõem a segui-Lo. Ao estarem revestidos de Cristo, enraizados e fundamentados no amor, as pessoas naturalmente se tornam mais humanas e passam a ser mais amáveis e respeitosas com os outros. Vestir-se da nova humanidade significa comunicar a Boa Nova, respeitando a diversidade e construindo pontes em vez de muros. Vestir-se da nova humanidade é permitir-se ser seduzido pela Palavra feita carne, que converte e faz novas todas as coisas.

Para refletir: Como é o meu conhecimento da Sagrada Escritura? Costumo estudá-la regularmente? Ela é minha fonte de inspiração? Procuro garantir que cada membro da família tenha a sua própria Bíblia? Temos o hábito de lê-la juntos, em algum momento?

Textos bíblicos: Jr 20,7-9; Rm 12, 1-2; Mt 16, 21-27; Sl 62(63).

Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório