Seduziste-me, Senhor

O profeta Jeremias, como nos narra a 1ª Leitura deste Domingo (Jeremias 20,7-9), seduzido pelo amor divino, colocou sua vida a serviço do Senhor. Enfrentou a classe dominante, que não aceitava a sua mensagem, considerada muito dura, porque anunciava a destruição e a ruína de Jerusalém. A sua pregação tornou-se motivo de insulto e zombaria. Mas ele não se calou. Continuou a falar em nome de Deus. Deixou-se consumir pelo fogo ardente, comprimido nos seus ossos: “Vós me seduzistes, Senhor e eu deixei-me seduzir.”.

Quem sentiu o chamamento divino guarda sempre dentro de si a força e a confiança que vem de Deus. Eis o que o próprio profeta escreveu, recordando a sua vocação: “Eu te escolhi, Eu te consagrei e te constitui profeta entre as nações. Eu ponho as minhas palavras na tua boca. Dou-te poder sobre os povos e reinos para arrancar e demolir, para arruinar e destruir, para edificar e plantar. Eu estou contigo para te salvar.” (Jeremias 1, 4-10.19)

No Domingo passado, ouvimos no Evangelho de como São Pedro fez uma profissão de fé em Jesus, afirmando: “Senhor, Vós sois o Messias, o Filho de Deus.” Foi sobre esta fé que Jesus edificou a Sua Igreja.

Neste Domingo, no Evangelho que vamos ouvir (Mateus 16,21-27), Jesus revela aos discípulos a sua missão de Messias Salvador, mas como “Servo sofredor”. Jesus identifica-se com o Servo de Deus anunciado pelo profeta Isaías. Jesus vai carregar sobre si as culpas da humanidade. Dentro de pouco tempo, em Jerusalém, Jesus vai percorrer o caminho do Calvário. A salvação virá através da Cruz. Depois da morte, virá a ressurreição.

Ele deu-nos o exemplo, para que possamos levar a cruz todos os dias. São Josemaría Escrivá nos diz que: “A alegria da Ressurreição é consequência da Cruz. O caminho da nossa santificação pessoal passa, quotidianamente pela cruz. Jesus ajuda-nos e com Ele não há lugar para a tristeza. Com a alma trespassada de alegria, nenhum dia sem cruz.” (É Cristo que passa, 176).  Aceitemos todas as palavras de Jesus e não apenas as que nos agradam. Sigamos Jesus, carregando a cruz, cumprindo a missão de Servo de Deus e dos homens. Os amigos de Jesus seguem os seus passos, aceitam o seu convite: “Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo.”, nos diz o Senhor.

Deus deu-nos a vida não para guardá-la egoisticamente para si mesmo, mas para perdê-la. Amar é esquecer-se de si mesmo para nos darmos aos outros. Renunciar à própria vida, neste mundo, é condição indispensável para a gozar em plenitude, na eternidade: “Quem perder a vida por minha causa há de encontrá-la. Na glória de meu Pai, Eu retribuirei a cada um, segundo o seu modo de proceder.”.

Jesus revela-nos o sentido autêntico do seu messianismo e da sua filiação divina que não passa pelo triunfo humano, mas pela Paixão e morte de cruz. Acreditamos que Jesus é o “Messias, o Filho de Deus” e desejamos participar da sua glória. O discípulo não é mais do que o Mestre. Quem quiser ser discípulo de Jesus, terá de renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz, todos os dias. Quem, por amor a Jesus, perder a vida neste mundo, ganhará a vida eterna, na glória de Deus Pai. Tomemos a decisão de seguir Jesus. “Troquemos o instante pelo eterno, sigamos o caminho de Jesus. a primavera vem depois do inverno. A alegria vem depois da Cruz.”. (Hino Litúrgico da Liturgia das Horas).

Dom Antônio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen