Segui-me
A liturgia no Tempo Comum inicia relatando o começo da vida pública de Jesus Cristo. As primeiras palavras e ações, descritas de forma bem resumida pelos evangelistas, introduzem todo o seu ministério. O Evangelista Mateus que nos conduzirá neste ano, registra que Jesus se muda de Nazaré para Cafarnaum às margens do mar da Galileia (Mt 4,12-23). Um lugar que facilitava a missão evangelizadora.
O primeiro anúncio, a primeira boa nova se resume neste convite: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. O que significa esta expressão? Certamente não indica um lugar geográfico, uma determinada época histórica, uma determinada forma de organização social e política. Indica que Deus reina, que é Deus o Senhor, e o seu senhorio está presente, está se realizando na pessoa de Jesus Cristo. As ações de atenção a todas as pessoas, as palavras ditas com autoridade, as curas físicas, as curas espirituais, o perdão dos pecados, enfim o cuidado com o homem integral revela o senhorio de Deus.
A segunda ação e fala de Jesus é convidar pessoas para segui-lo. “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens”. O seguimento, fruto de um convite pessoal de Jesus é a marca fundamental do cristianismo. Para segui-lo faz-se necessário converter-se, voltar-se em direção daquele que convidou, confiar e confiar-se a quem convidou.
“A fé cristã não é antes de tudo uma doutrina ou uma prática: é relação pessoal com Jesus, o meu Senhor, que amo porque ele me amou por primeiro. O amor por ele que se exprime em ouvidos que escutam, olhos que veem, pés que seguem, mãos que tocam, faro que cheira, boca que saboreia, coração que canta, é o centro do cristianismo”. Esta é a interpretação do exegeta Silvano Fausti a respeito do convite de Jesus Cristo.
Surpreende o modo como Jesus chama. Não há nada de extraordinário, nem na voz e nem sinal especial, nem em ambiente envolto em mistério. Chama os primeiros apóstolos enquanto estavam pescando. Isto ajuda a desmistificar o modo como Deus se relaciona ordinariamente com os humanos. É preciso ver a sua presença nos espaços bem humanos.
O caminho de todos os cristãos é colocar-se em movimento seguindo quem convidou, esta condição é ainda mais evidente e exigente para os apóstolos. Convidou-os para estar com Ele partilhando as alegrias e dificuldades da missão. Tudo isto para capacitá-los para serem enviados e tornarem-se continuadores da missão de Jesus Cristo. Deus continua agindo da mesma forma na atualidade. Vai caminhando pelas estradas do mundo convidado todos para se converterem porque o Reino de Deus está no meio de nós. Entre os convidados, para alguns o convite é para se dedicarem totalmente à missão de anunciar o reino de Deus. É a missão dos bispos, padres, religiosas e religiosos. Os apóstolos citados no texto hodierno – Pedro e André e Tiago e João – tiveram que renunciar aos planos pessoais, ao trabalho para assumirem nova missão de “serem pescadores de homens”. As mesmas opções são esperadas de todos os que se dedicam integralmente na missão evangelizadora da Igreja.
O tema do Ano Vocacional que a Igreja está vivendo diz: “Vocação: graça e missão”. Os chamados da primeira hora foram escolhidos entre muitos outros, isto é uma graça. Foram chamados pelo nome. Depois disso receberam a bela missão de anunciar o Evangelho. O lema do ano vocacional recorda: “Corações ardentes, pés a caminho”. O encontro pessoal com Cristo faz arder o coração por uma grande causa e coloca a pessoa em movimento. Foi com coração ardente e pés a caminho que Jesus Cristo se encontrou com as pessoas, prioritariamente com as feridas e fragilizadas, necessitadas de cura e cuidado.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo