Sem Romaria em 2020, mas com a certeza da intercessão de Maria!
Os meses vão passando e a pandemia da covid-19 persiste. Para os católicos o mês de outubro é marcado por tríduos, novenas, procissões e grandes romarias ligadas à devoção de Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora do Círio de Nazaré, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora do Rosário. Uma multidão de devotos, neste ano, não poderá experimentar o júbilo de celebrar a Eucaristia com a multidão, nem sentir o calor fraterno e de fé de quem caminha ao lado nas procissões e romarias, nem a partilha de alimentos nas festividades. Podemos dizer que seja uma espécie de jejum forçado na vivência da devoção mariana tradicional.
Fundamentado na tradição bíblica a Igreja ensina que o jejum faz bem e é necessário para a conversão e o crescimento da fé. No tempo quaresmal aos fiéis é solicitado que exercitem o jejum como exercício de fortalecimento da fé no Evangelho e para a conversão a Cristo. Jejuar, neste caso, significa renunciar voluntariamente a algo que é bom e lícito para escolher a alguém maior – Cristo – e optar por um caminho mais pleno de vida. Na pandemia se faz necessário abrir mão de algo bom – novenas, procissões, romarias, festas – para preservar algo maior, isto é o dom da vida.
Quando se é privado de atividades e programações que fazem bem começam a surgir muitas perguntas e inquietações. Por que não são possíveis de serem realizadas? Qual a falta que vão fazer? E o vazio que se instala? Também podem ser feitas outras perguntas que levem a um aprofundamento sobre o sentido das romarias. Não tanto direcionar a preocupação pela não realização, mas direcionar a preocupação em aumentar o desejo de realizá-las novamente, assim que for possível.
Por que fazemos romarias? Nas romarias marianas os devotos têm diante dos olhos, Maria a Mãe de Deus, a Mãe da Igreja e nossa Mãe. Fazendo memória do itinerário de sua vida de fé começam a sair luzes clareando o caminho do romeiro. No universo da fé, a luz emitida por Maria equipara-se à luz refletida pela lua. Ela reflete Jesus Cristo, que se apresentou como luz. “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida” (João 8,12). Por Maria, o romeiro vai sendo conduzido ao encontro do Salvador.
Uma romaria não é feita por caminhantes solitários, egoístas, ou pela simples soma matemática dos indivíduos em movimento, mesmo que chegue a milhares; mas a romaria requer fraternidade, solidariedade, irmandade. Romeiros que veem quem está ao lado, sentem compaixão e o ajudam, se for preciso. Neste peregrinar, a vida do romeiro iluminada pela luz refletida nele, vai clareando o caminho de quem está ao lado. Nas procissões luminosas fica bem visível este sentido quando a luz e o calor de pequenas velas vão se somando.
Temos necessidade de fazer planos e organizar as devoções marianas para serem mediação das bênçãos de Deus. Seria muita pretensão restringirmos a ação a Deus aos meios humanos e ao que estiver sob o nosso controle. Os caminhos de Deus para chegar a seus filhos são muito mais generosos e variados do que a imaginação humana pode sonhar. Romeiras e romeiros tenham a certeza que as súplicas, os pedidos, os agradecimentos, as promessas, as angústias vão chegar a Deus pela intercessão da Mãe Aparecida, e as bênçãos serão abundantes.
Na pandemia, imploramos que a Mãe Aparecida leve a Deus as vítimas da Covid-19 e seus familiares que nem puderam fazer uma despedida digna.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo