Semana de Oração pela Unidade Cristã

A semana de oração pela unidade cristã é de longa tradição e busca unir os membros das diferentes igrejas cristãs, através da oração tendo como horizonte a unidade em Cristo. Atendem o pedido de Jesus expresso no evangelho de João: “para que sejam um como nós” (Jo-17,11). Existem diferentes ações que fortaleceriam a construção da unidade. A oração, contudo, é um caminho especial, porque permite que os diferentes grupos se encontrem entre si e com o criador, a partir da fé em Jesus Cristo, sob a luz do Espírito Santo. A Semana de Oração pela Unidade Cristã é um momento especial para colocarmos nas mãos da Trindade nossos esforços, aproximações e dificuldades em vista do relacionamento fraterno, superando barreiras e divisões.

A inquietude dos missionários no século XIX sobre como pregar o nome Jesus e sua proposta em meio a divisões foi um primeiro passo. Seguiu-se de outra inquietude: como explicitar a proposta cristã em mundo que passava por profundas transformações, sobretudo pela industrialização, mas aprofundando ainda mais as situações de pobreza e miséria. Por fim, a consciência de que a busca do diálogo e unidade implicava também a revisão das concepções particulares de cada igreja cristã. Estas “inquietudes” foram importantes e orientaram a aproximação e o diálogo entre as diferentes denominações. Lembramos que esta iniciativa surgiu oito séculos após o Cisma do Oriente (1054) e três séculos após a Reforma (1517).

As iniciativas acima descritas foram acolhidas ao longo do tempo também pela Igreja Católica Romana e a iniciativa mais explícita foi a sugestão da novena pela unidade. O Papa Leão XIII (1895) sugeriu como tempo oportuno a semana posterior à celebração da Ascensão, culminando com a Solenidade de Pentecostes. Ressalta-se o empenho de dois personagens para que a proposta se consolidasse. O primeiro, Lewis Thomas Wattson, anglicano que se tornou católico. Ele sugeria outra data de 18 de janeiro (festa da cátedra de S. Pedro em Roma) a 25 de janeiro (festa de S. Paulo); estariam assim representados nos dois apóstolos estilos diferentes de vivência cristã.  O segundo, Paul Couturier sacerdote católico francês, defendia a perspectiva de superar a ideia de um retorno ao catolicismo, mas da reunião fraterna de igrejas, pois a fé em Jesus Cristo é princípio de comunhão e não de divisão ou exclusão.

Em 1926, o movimento Fé e Constituição, que mais tarde vai estar na origem da formação do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), lançou um apelo para a realização de uma Semana de Oração pela Unidade, a ser feita nos dias que antecedem a festa de Pentecostes.A partir de 1968, a Semana passou a ser preparada conjuntamente pelo Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas, representado por sua comissão de Fé e Constituição.

A cada ano, um país prepara a Semana de Oração pela Unidade, escolhendo o tema e elaborando indicações gerais de textos, orações, reflexões. No Brasil, o texto é recebido pelo CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil) e adaptado segundo a nossa tradição.

O hábito de rezar com outras igrejas é compromisso com o ecumenismo que “orienta para uma espiritualidade de acolhida, escuta, aproximação e respeito entre diferentes formas de viver a fé em Jesus Cristo. Isso é muito importante também para o convívio dentro da própria Igreja, na família e no trabalho. Nós conhecemos e convivemos com pessoas de diferentes pertenças religiosas” (CONIC). É uma construção humana sob inspiração divina: “é suscitado pelo Espírito Santo com vistas a restabelecer a unidade de todos os cristãos, a fim de que o mundo creia em Jesus Cristo. Desse movimento participam aqueles que invocam o Deus Trino e confessam Jesus Cristo como Senhor e Salvador e que, nas comunidades onde ouviram o evangelho aspiram uma Igreja de Deus, una e visível, verdadeiramente universal, enviada a todo mundo para que este se converta ao evangelho e se salve para a glória de Deus” (João Bosch Navarro, 12).

O projeto ecumênico acontece sob o impulso e luz do Espírito Santo, celebrado na Solenidade de Pentecostes. A força que veio do alto motivou a comunidade cristã a compreender a sua missão e sair para encontrar-se com as diferentes culturas no compromisso do anúncio do evangelho, não como imposição, mas como uma proposta renovadora da vida. O Espírito convida ao diálogo, à compreensão, ao desejo de caminhar junto a partir dos pontos de unidade.

Neste ano a proposta de oração foi elaborada pelos irmãos de Malta.  Terá como tema “Gentileza gera Gentileza”, baseado na passagem de At 28:2, que relata o momento em que Paulo foi acolhido por habitantes de Malta, após um naufrágio em seu navio. O texto diz que aquelas pessoas usaram de receptividade e Gentileza para com o apóstolo, então forasteiro (CONIC).

O ecumenismo compreende o sonho de habitar na casa comum, aprendendo a conviver e respeitar o diferente.  A hospitalidade e a gentileza são necessárias para uma convivência sadia entre as pessoas. O Brasil tem a necessidade de acolher estes princípios de vida. O discurso do ódio, intolerância e violência cria muros e afasta as pessoas e, mais gravemente,destrói vidas e fere a dignidade humana. É a sombra que paira sobre todos nós e que precisa ser vencida pela luz de um compromisso comum.

Diante disso, somos convocados a utilizar expressões e manifestações religiosas marcadas pela fraternidade, o perdão e o amor, que não serão instrumentalizados para justificar a violência (DGAE, 56). São os princípios do ecumenismo presentes no nosso cotidiano.

A hospitalidade e a gentileza são virtudes que contribuem de forma significativa para a construção da unidade cristã. A atenção,carinho e bondade experimentados por Paulo foram compreendidos como um sinal da força de Deus atuando junto à humanidade.

Que o Espírito Santo inspire as igrejas a se comprometerem com a unidade e faça delas  um testemunho vivo na sociedade de compromisso com o amor bondade e tolerância plasmado pela ação comum em vista da superação da desigualdade e injustiça social.

Pe. Ari Antônio dos Reis