Semana Nacional da Família
Eu e minha casa serviremos ao Senhor (Js 24, 15)
A partir da proposição da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Comissão Episcopal Vida e Família, celebramos a Semana Nacional da Família entre os dias 09 e 15 de agosto. Esta iniciativa revela a importância que a Igreja dá àfamília, sustentáculo afetivo, material e existencial de todo o ser humano. Segundo o Papa Francisco o bem da família é decisivo para o futuro do mundo e da Igreja (AL 31).
Ao longo da caminhada da humanidade a família enfrentou diferentes desafios, próprios de cada época histórica. É possível que os desafios e preocupações hodiernas não sejam maiores que em épocas passadas. São diferentes e exigem atitudes diferenciadas. Sugerem a necessidade do compromisso, cuidado e atenção com as famílias em geral e a família à qual pertencemos por desígnio divino.
Os cinco meses de pandemia interferiram na vida das famílias trazendo preocupações e também provocando descobertas interessantes quanto à vida familiar. Algumas famílias sentiram mais fortemente o tempo de reclusão devido às condições precárias de sobrevivência e isto gerou angústias e sofrimento. Ficar um longo tempo em casa quando existem condições mínimas de conforto é diferente que permanecer em casa sem estas condições. A pandemia também gerou o aumento do percentual de desempregados. Cada vaga de trabalho fechada interfere diretamente nas condições de sobrevivência da família.
A reflexão sobre família convida-nos a olhar duas necessidades mais prementes quanto à integridade da vida familiar. Estão interligadas e conectam-se também com outras que não serão tratadas aqui. Primeiramente lembramos que é fundamental para a existência familiar a garantia das condições mínimas materiais de vida. Neste sentido a proposição da 6ª Semana Social Brasileira com o tema: “mutirão pela vida: terra, teto e trabalho”, dialoga com esta perspectiva fundamental na existência familiar. Os vocacionados à vida no campo sobrevivem tendo terra para cultivar e guardar, segundo o preceito bíblico (Gn 2,15) e nisto contribuem com a humanidade fornecendo alimentos e outros bens necessários à sobrevivência social. Cada família tem a necessidade de um teto, a casa para morar. Segundo o Papa Francisco família e casa caminham juntas. A moradia digna é fundamental para que a família possa se estruturar na luta pela sobrevivência. Junto com a moradia é importante dar atenção aos locais onde são construídas as casas. Não podem ser depósitos humanos, mas espaços onde se possa conviver na comunidade ampliada com dignidade, tendo acesso ao saneamento básico, transporte público, educação, lazer e cultura.
Ligado à terra e ao teto como base da sobrevivência familiar está o trabalho. É compreendido como meio de sobrevivência, integração social e forma de o ser humano realizar-se na sua inteligência e capacidade criativa.O trabalho deve contribuir para dignificar o ser humano. O Papa João Paulo II na Encíclica Centesimus Annus afirma: no trabalho o homem exprime-se e realiza-se na atividade laborativa. Simultaneamente o trabalho tem uma dimensão social, pela sua íntima relação quer com a família quer com o bem comum, porque pode-se afirmar de verdade que o trabalho dos operários é o que produz as riquezas dos Estado(CA 6). O trabalho humano digno é direito, força de sustentação familiar e mantenedor da sociedade.
Lembremos de outros direitos garantidos segundo o artigo 6ª da Constituição brasileira que assim exprime:são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.A exigência do cumprimento destes direitos fundamentais, responsabilidade do Estado, é exercício político em vista do bem comum, da integridade física e psicológica das famílias.
Contudo existe algo a mais na experiência familiar, além das necessárias condições materiais de sobrevivência. Quando um casal se une, faz em nome de um projeto marcado pelo amor e pela confiança. Em nome deste amor fazem a aliança matrimonial objetivando um caminho de felicidade.São dois projetos de vida que se fundem em um único projeto. O próprio Jesus explicitou o fundamento divino deste projeto. Afirmou que o matrimônio faz do homem e da mulher uma só carne (Mc 10,8). Se é uma aliança, assume-se o compromisso da sua manutenção pelo amor, diálogo, compreensão e cuidado de um para com o outro e posteriormente os filhos acolhidos. A expressão que o lema da Semana Nacional da Família apresenta: “eu e minha casa serviremos ao Senhor”, extraída do livro de Josué,diz respeito à família voltada para algo maior, servir ao projeto de Deus. A família não existe para si. Ela existe para algo maior e nisto está a abertura para acolher a orientação divina. Abre-se o espaço para a constituição de uma Igreja doméstica tão importante na missão evangelizadora. É um projeto de vida e um caminho de espiritualidade importantes para a Igreja e para a sociedade. A família que se volta para Deus se fortalece porque deixa espaço para que Ele, em seu amor misericordioso, cuide desta família.
Que nossas famílias tenham garantido o direito de viver com dignidade e possam ser compreendidas como um projeto desejado por Deus abrindo-se aos seus desígnios.
Pe. Ari Antonio dos Reis