Senhor, dai-nos sede de justiça!
Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Celebramos com fé e esperança este tempo da Quaresma, marcado por uma vida espiritual intensa e pelo apelo da Campanha da Fraternidade, com o tema “Fraternidade e Fome”, e o lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer!”(Mt 14,16).
Defender e proteger a dignidade vida em todos os seus aspectos pode ser uma opção de fé, que nasce de uma profunda comunhão com Deus, Pai e Criador do universo. Mas, para vivermos em comunhão, precisamos também percorrer o caminho da conversão interior. Existe um único lugar no mundo onde pode acontecer algo verdadeiramente novo. Este lugar é o nosso coração. Essa novidade acontece quando, libertados do fermento do pecado, passamos a viver os acontecimentos deste mundo tendo presente que somos peregrinos e estamos a caminho da casa do Pai.
O caminho do ser humano neste mundo pode ser marcado por momentos belos e críticos, de dor e de esperança, como foi o caminho do povo de Deus para a terra prometia. A busca por liberdade, dignidade e proteção da vida, é uma realidade presente também na vida de milhões de pessoas do nosso tempo. Tocou a vida de José e Maria, que precisaram fugir para o Egito, para proteger a vida do recém-nascido. A busca da liberdade e da dignidade, faz com que os perseguidos pelas guerras, os humilhados pela falta de trabalho, de segurança e de opções de vida em relação ao futuro, não só arisquem a vida atravessando os desertos, mas também os mares e os muros de cimento ou do preconceito, erguidos com a intenção de segregá-los, da possibilidade de poderem recomeçar a vida e terem um futuro mais digno.
O Senhor Jesus, percorrendo as cidades da terra prometida e anunciando o Reino de Deus, chegou também à pequena cidade de Sicar, na Samaria e, cansado da viagem, sentou-se junto ao poço de Jacó. Ele, água viva que sacia para a vida eterna, pede de beber à Samaritana, com a intenção de oferecer-lhe a água do Espírito, que a fará renascer para uma vida nova. Pela água do batismo, nós também renascemos como filhos e filhas de Deus, mas, no caminho da vida para a casa do Pai, somos colocados à prova. Precisamos atravessar os desertos, não aqueles do espaço geográfico, mas aqueles formados no nosso coração, através das nossas atitudes de comodismo, do preconceito e da indiferença. Eles podem ir se alargando com o passar dos anos, pelo abandono da oração pessoal, pela falta de cultivo de um ambiente cristão e vida de oração na família, pela não participação na vida da comunidade de fé, pelo orgulho que nos leva a viver o isolamento da autossuficiência, em relação às coisas Deus, que dizem respeito à nossa vida. Podemos estar morrendo de sede de Deus, que se manifesta na falta de compaixão para com os mais fragilizados e famintos. O pecado nos impede de ouvir a voz do Senhor, nos oferecendo a água viva, através do seu amor e da sua misericórdia. Quem não acolhe o Senhor em sua vida vive no medo o presente, é um errante sem rumo, um sedento, que não encontra a água da misericórdia, que sacia sua vida e lhe dá forças para percorrer o caminho que o conduzirá à casa do Pai.
+ Dom José Gislon, OFMCap. – Bispo Diocesano de Caxias do Sul