Sentiu compaixão – A compaixão de Jesus

Na semana passada falávamos das formas de olhar e do olhar de Jesus. O texto-base da Campanha da Fraternidade 2020 inicia a segunda parte falando da compaixão: “Se por um lado, o olhar da indiferença gera tanto mal, o olhar da compaixão pode fecundar o bem no coração humano e conferir verdadeiro sentido à vida”.

Podemos dizer que o olhar que Jesus nos ensina com a parábola do Bom Samaritano é o olhar daquele que se compromete com o outro. Um olhar interessado, não em si mesmo, mas no bem do próximo, seja ele quem for: simpático ou antipático; independente de etnia ou religião; amigo ou inimigo. Somos chamados a iluminar nosso olhar com o olhar de Cristo que do alto da cruz mostrou toda sua misericórdia e compaixão: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!”(Lc 23, 34).

Sentir compaixão não se trata de ver o irmão necessitado como um coitado, mas sofrer com o seu sofrimento no desejo de trazê-lo para uma condição digna de ser humano. O samaritano da parábola agiu com verdadeira misericórdia e foi capaz de assumir a dor do outro provendo tudo o que lhe era necessário. Na compaixão não há incertezas, não se titubeia, não existe indiferença, trata-se de ter em nós os mesmos sentimentos de Cristo. Fazer-se próximo sem preconceitos, sem classificação, sem esperar nada em troca. Gratuitamente amar!

A expressão de São Camilo de Lellis que exortava os cuidadores dos enfermos a: “Colocar mais coração nessas mãos” traduz bem a atitude da verdadeira compaixão. Passa uma grande diferença entre o cuidar ou assistir alguém com paixão ou sem paixão, com amor ou sem amor, com coração ou sem coração.

“A compaixão é um caminho privilegiado também para edificar a justiça, porque colocarmo-nos na situação do outro, não nos permite somente encontrar suas fragilidades e receios, mas também descobrir, no âmbito da fragilidade que conota cada ser humano, a sua preciosidade e valor único, em uma palavra: a sua dignidade” (111).

Na tradição cristã, a justiça jamais estará desvinculada da caridade. A justiça é samaritana, sempre capaz de cuidar independentemente das condições em que se encontra aquele que está à beira do caminho.

“Sentir compaixão e cuidar com ternura é reacender a chama de uma vida; é reconstruir uma história; é aquecer um coração desesperado; é iluminar quem está na escuridão; é abrir os braços para quem precisa de um abraço; é fazer-se presente onde ninguém deseja estar ou queira ficar” (136).

A Páscoa nos ensina a, por Cristo, com Cristo e em Cristo, romper os túmulos da indiferença e do ódio e ressurgir para o zelo, o cuidado, a solidariedade.

Para refletir:

Estou disposto a assumir a mesma ternura e cuidado que Deus tem para comigo? O que acontece com as pessoas que só pensam em si mesmas? Desejo assumir para mim de não ser indiferente para com quem pede ajuda, socorro, apoio, consolação? A que ponto se encontra a minha capacidade de compaixão?

Textos bíblicos: 1Sm 16, 1-13;Lc 23, 34; Mt 14, 13-21; Jo 9, 1-41; Sl 22(23)

Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório