Ser discípulo

Jesus é muito franco e sincero com todas as pessoas que o seguem. Sua metodologia e ensinamentos são muito diretos. Não ilude ninguém e nem quer seguidores iludidos e, muito menos, escravizados. Antes de apresentar qualquer condição para ser discípulo ele ensina, educa, corrige e faz conhecer a sua vontade. Após fazer todo este processo, considera amigo quem se aproximou dele. Jesus afirma que o amigo sabe o que passa com o amigo, conhece as convicções, desejos, projetos. O mesmo não acontece com o servo, alerta Jesus, que não sabe dos planos do senhor. Portanto os discípulos são pessoas livres, pois conhecem o Mestre e as condições do seguimento.

Esta metodologia vem reafirmada no Evangelho de Lucas 14,25-33. Através de dois exemplos, Jesus ilustra que para segui-lo é preciso uma série reflexão, planejamento, discernimento. A decisão para segui-lo requer maturidade e seriedade, perseverança e fadiga, inteligência e lucidez. Depois desta séria reflexão pode-se fazer uma escolha radical que implica uma total doação, um total amor por Cristo, uma total liberdade interior.

A partir daí, compreende-se as condições do discipulado do Evangelho dominical: amá-lo mais do que a qualquer outra pessoa e mais do que a própria vida; carregar a própria cruz e segui-lo; renunciar a tudo o que possui, não confiando nos bens. Os estudiosos descrevem o tempo presente com muitas expressões: pensamento débil, cultura do efêmero, fragilidade juvenil, inquietude existencial, sociedade líquida, pós-verdade, geração nem-nem, entre outras. As duras palavras do Evangelho soam como uma provocação ao mundo contemporâneo. Provocam a tomar a decisão de seguir Cristo sem meias medidas, desculpas cômodas, superficialidades, veleidades. As palavras de Cristo são de uma clareza, até um tanto rudes, mas honram a verdade. São um convite a não se fiar em meias verdades, nem colocar a confiança em ilusões. O discípulo aceitando e optando por este caminho vai se assemelhando ao Mestre Jesus. Foi assim que ele viveu.

Os ensinamentos de Jesus Cristo são sábios e oferecem respostas às perguntas fundamentais O Livro da Sabedoria 9,13-18, questiona o homem sobre capacidade de conhecer os desígnios de Deus e de muitas coisas no mundo. Conclui que o conhecimento humano é limitado e é preciso reconhecer a limitação para permitir que a “Sabedoria” responda às inquietações humanas e Deus revele seus desígnios.  O homem que procura terá sucesso na sua busca quando reconhecer os próprios limites e aceitar os ensinamentos divinos.

Neste domingo lê-se parte da breve carta de São Paulo a Filêmon. Onésimo, escravo de Filêmon, havia fugido e foi refugiar-se junto a Paulo. Paulo escreve uma carta para Filêmon onde sugere o que deve ser feito. Não oferece uma solução paternalista, nem uma solução jurídica. O que é proposto se fundamenta no Evangelho. Escreve Paulo, “eu, velho como estou e agora também prisioneiro de Jesus Cristo, faço-te um pedido em favor do meu filho que fiz nascer para Cristo na prisão, Onésimo”. Revela que Onésimo recebeu o Evangelho e o batismo de Paulo. Ele gostaria de ficar com Onésimo para cuidá-lo na prisão, mas o envia de volta para Filêmon nesta condição: “o tenhas de volta para sempre, já não como escravo, mas, muito mais do que isso, como um irmão querido para mim quanto mais ele fôr para ti, tanto como pessoa humana quanto como irmão no Senhor”. São Paulo, nesta pequena carta, expressa os ensinamentos do Evangelho sobre a inviolável dignidade humana. Por isso, os cristãos devem ser os primeiros a levantarem a voz contra qualquer violação do ser humano.

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo