Ser missionário hoje

Hoje o desafio da missão é narrar Deus numa sociedade marcada pela era digital, plural e altamente informada. Ser missionário é ser uma referência sobre Deus, torná-lo mais acessível e atual. De um lado, temos a estrutura religiosa e, de outro, as pessoas com seus anseios e buscas. As pessoas de nosso tempo não procuram apenas conteúdos religiosos, mas uma relação, uma experiência de fé. A linguagem da relação, contudo, só se realiza pela experiência de vida.  São estimuladoras as palavras de São Paulo VI para esse novo olhar que a modernidade sugere: “O fato de vivermos numa civilização da imagem deverá impulsionar-nos a utilizar, na transmissão da mensagem evangélica, os meios modernos postos à disposição por essa civilização.”

A grande questão que se impõe, hoje, para a missão não é como dizer as coisas, mas o que dizer. Para o Apóstolo Paulo a dificuldade era como chegar às pessoas e aos povos, porque ele sabia o que dizer. Atualmente, o problema não é mais como chegar às pessoas, mas o que dizer a elas, porque se multiplicam os canais de comunicação e se fragmentam os conteúdos. Onde a mensagem é visível, verdadeira e convincente, nada deverá condicioná-la.

A passagem do globo para a aldeia nos interpela como pessoas de fé, seja na comunicação com os outros, seja na vivência pessoal dessa modalidade nova de comunicar. Não interessa mais tanto a massa, mas a individualidade integral e solidária. Enfim, a experiência do encontro com o sagrado, com o numinoso, implica uma relação afetiva e participativa. Esse interesse e engajamento podem se realizar no isolamento, mas também na partilha, porque comunicar a experiência é uma necessidade de quem a testemunhou.

Vivemos um momento complexo, no qual participamos da cibercultura ou da tecnociência. Uma crítica radical a esse processo é considerada conservadora, porque “vira as costas” ao futuro e exige uma experiência de vida alienada do progresso conquistado. Muitas análises críticas partem de observações parciais sobre as mudanças contemporâneas. Estão fundadas em teorias, noções e vivências de um mundo que está desaparecendo. Não são capazes de perceber a novidade que a mudança de época está trazendo.

Necessariamente, a telepresença não produzirá relacionamentos menos verdadeiros e intensos do que a vida real, nem os substituirá. A questão não está nos meios, mas, em nós, que os utilizamos e nas potencialidades que eles nos acessarão.

Por outro lado, uma assimilação conformada à atual realidade é desprovida de discernimento sobre os riscos e os limites que se impõem. Um equilíbrio, entre o possível e o conveniente, passa, necessariamente, pela ética e pelo respeito à experiência do transcendente. As estratégias da comunicação não podem chocar com os princípios de fraternidade que se espera dos seguidores de Jesus.

Apesar de tudo, compreende-se que o impulso de comunicar é o fundamento para a missão. Paulo VI contempla essa relação na Evangelii Nuntiandi: Em cada nova etapa da história, a Igreja, impulsionada pelo desejo de evangelizar, não tem senão uma preocupação: quem enviar para anunciar o mistério de Jesus? Em que linguagem anunciar esse mistério? Como conseguir que ressoe e chegue a todos os que devem escutar? (EN, 22).

Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Santa Maria