Ser solidária, dimensão essencial da Igreja

Na atual pandemia Covid-19, há alguns aspectos lamentáveis, o negacionismo da parte de autoridades e de lideranças, o noticiado desvio de recursos públicos à prevenção e ao atendimento dos que a contraem, a apropriação indébita do auxílio emergencial a desassistidos, a não observância das providências fundamentais para a prevenção ao contágio, por vezes de forma ostensiva e provocativa, e outros, num verdadeiro pandemônio, no dizer de alguém.

Mas há também inúmeros aspectos edificantes, a dedicação dos médicos e servidores dos hospitais e casas de saúde, as inúmeras iniciativas pessoais e de instituições de ajuda aos necessitados mais atingidos pelas consequências desta situação, projetos e providências do setor público e privado e muitos mais, o que sugere a um bispo falar em “pansolidariedade”.

Nessa solidariedade, é indispensável destacar a ação das Igrejas e em particular da Igreja Católica, citando em primeiro lugar o Papa Francisco. Desde o início da pandemia, ele se manifestou próximo e sensível às famílias atingidas, a todas as pessoas da linha de frente no atendimento aos infectados e a outras pessoas, incluindo-as sucessiva e frequentemente na sua missa diária privativa. Continuamente faz doações de equipamentos de proteção individual, bem como de alguns valores financeiros a hospitais e Dioceses não só da Itália, mas de diversos outros países. Foi impressionante o momento de oração, homilia e bênção à cidade de Roma e ao mundo de forma extraordinária no dia 27 de março. Seguidamente telefona para Bispos e Arcebispos buscando informações a respeito da situação na respectiva região, expressando seu conforto paternal, assegurando sua oração e enviando sua bênção apostólica.

Arquidioceses e Dioceses de muitos países colocaram à disposição dos governos seminários, casas de retiros e outras infraestruturas para o atendimento de saúde da população e fizeram doações financeiras expressivas para instituições de saúde do próprio país bem como de outros. Em nosso país, a CNBB e a Cáritas Brasileira, no espírito da Campanha da Fraternidade, no dia 12 de abril, domingo de Páscoa, lançaram a “A Ação Solidária emergencial é tempo de cuidar”. Em apenas 90 Arquidioceses e Dioceses que enviaram relatório, a Ação já ajudou cerca de 420 mil pessoas, com mais de duas mil toneladas de alimentos; 156 mil itens de higiene e limpeza; mais de 90 mil equipamentos de proteção individual; quase 90 mil peças de roupa e calçados; mais de um milhão e seiscentos mil reais.

Mas, como diz o Secretário Geral da CNBB, por expressivos que sejam, esses números não revelam o quanto mais foi feito. E se a caridade deve sempre ser silenciosa e que as obras importam mais que as palavras, esse registro possui força testemunhal significativa, que não se pode deixar de estimular.

Tais ações expressam aquilo que a Igreja deve ser por sua essência, solidária, samaritana, servidora. Ela deve se parecer sempre mais com Cristo. A solidariedade e a misericórdia a tornam semelhante a Ele. Para o renomado Cardeal Aloísio Lorscheider, o cristianismo, em sua essência, é solidariedade. O encontro com Cristo, o divino samaritano, que se fez solidário com a humanidade (Fil 2, 6-9), urge a solidariedade, particularmente com os mais fracos.

Para São João Paulo II, no documento “A Igreja na América”, à luz do Evangelho, ela deve “promover uma cultura da solidariedade que incentive oportunas iniciativas de apoio aos pobres e aos marginalizados” (EA 52).

Pe. Antonio Valentini Neto – Administrador Diocesano de Erexim