Sinais que suscitam e sustentam a Amizade Social

 

Diante do desafiador diagnóstico apresentado pela Campanha da Fraternidade, é compreensível que possamos sentir desânimo e a tentação de nos conformarmos com a situação. No entanto, vale lembrar que nem tudo está perdido. Nós não estamos perdidos. Desconfigurados pelo pecado, fomos resgatados pela vida, morte e ressurreição de Jesus, que nos devolveu o frescor original dos dias da Criação. A nossa humanidade não é apenas pecado e divisão. O ímpeto de comunhão, fraternidade, diálogo e amizade social está enraizado em nossa natureza, gerada no amor da Trindade.

O desenvolvimento das tecnologias da comunicação nos oferece enormes possibilidades de diálogo e conexão. Quando utilizadas para o bem, as mídias digitais nos aproximam, interligando-nos e possibilitando o encontro, o diálogo e a partilha, aspectos tão necessários à cultura atual e tão característicos da fé cristã. O Papa Francisco ressalta que os meios de comunicação podem ajudar a sentir-nos mais próximos uns dos outros, gerando um renovado sentido de unidade na família humana e impulsionando a solidariedade e o compromisso com uma vida mais digna. A cultura do encontro requer não apenas dar, mas também receber dos outros.

Além disso, o povo brasileiro demonstra uma permanente disposição à solidariedade, manifestando-se de forma gratuita e voluntária em emergências naturais ou tragédias causadas pelo ser humano. A solidariedade se manifesta concretamente no serviço, que pode assumir formas variadas de cuidar dos outros. No entanto, o Papa Francisco nos adverte que a solidariedade vai além de gestos esporádicos de generosidade; é pensar e agir em termos de comunidade, priorizando a vida de todos sobre a apropriação dos bens por alguns e lutando contra as causas estruturais da pobreza e da desigualdade.

Além disso, as propostas globais do Papa Francisco, como o Pacto Educativo Global, a Economia de Francisco e Clara e o processo de escuta Sinodal, envolvem toda a “aldeia global” em uma nova educação, uma nova economia e uma renovada consciência eclesial capaz de acolher, respeitar e promover as diferenças.

As Comunidades Eclesiais, com suas iniciativas de resgate da humanidade caída à beira do caminho, testemunham a vocação cristã à fraternidade e à amizade social. A prioridade dada às Comunidades Eclesiais Missionárias nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil também aponta que o episcopado e as comunidades católicas reconhecem a importância da experiência comunitária na vivência da fé cristã.

Em meio aos desafios e diagnósticos preocupantes, esses sinais de esperança nos convidam a não desanimar, mas a renovar nosso compromisso com a construção de uma amizade social baseada na solidariedade, no diálogo, na valorização das diferenças e na disposição ao serviço. Eles nos lembram que, apesar das adversidades, a humanidade continua a espalhar as sementes do bem e a mostrar sua vocação de viver como irmãos e irmãs, em uma única família.

 

Dom José Mário Scalon Angonese – Bispo Diocesano de Uruguaiana