Solenidade de Pentecostes
“Ficaram cheios do Espírito Santo” (Atos 2, 4)
No dia da Ascensão, Jesus tinha pedido aos Apóstolos para que não se afastassem de Jerusalém. Reunidos no Cenáculo, com Maria, Mãe de Jesus, os Apóstolos perseveravam unidos em oração. Diz-nos São Lucas, na 1a Leitura (Atos 2,1-11), que, no dia de Pentecostes, o Espírito desceu sobre eles sob a forma de línguas de fogo e como um vento impetuoso que encheu toda a casa e todos ficaram cheios do Espírito Santo. Os efeitos foram visíveis, rápidos e sentidos pelos habitantes de Jerusalém. As línguas de fogo são o símbolo da pregação ardente dos Apóstolos, renovados e transformados: cheios do Espírito Santo, corajosamente começaram a falar à multidão. Depois do discurso inflamado de Pedro, converteram-se cerca de três mil pessoas (Atos 2,41)! Refere ainda os Atos dos Apóstolos, como vamos ouvir na 1ª Leitura da Missa de hoje, que aqueles homens vindos de tantos países, atônitos e maravilhados perguntavam como era possível que cada um escutasse esta nova pregação na sua própria língua (Atos 2,1-11)!
Ao manifestar-se sob a forma de um vento impetuoso, podemos também ver nisto o símbolo da força e do poder, que o Espírito transmitia aos arautos da boa nova: a sua pregação, qual vento que derruba tudo por onde passa, havia de derrubar as estátuas dos deuses das antigas e numerosas religiões, varrendo as velhas doutrinas politeístas, dando origem à civilização cristã.
No livro do Gênesis nos é contado o episódio da construção da torre de Babel. Cheios de orgulho, os homens quiseram construir uma torre que chegasse ao Céu. Deus confundiu as suas línguas e eles não conseguiam entender-se. Na manhã de Pentecostes, o Espírito Santo opera o dom das línguas, que permite a compreensão maravilhosa da pregação apostólica. Unidos pelo Espírito Santo dá-se um entendimento mútuo entre os homens ali presentes, oriundos de todas as nações que existem debaixo dos céus. O Espírito Santo unifica os homens dos mais diversos povos. Esta é a obra fundamental do Espírito Divino: congregar na unidade, fazer de povos e homens diferentes um só povo, o Povo de Deus, a Igreja. E assim, todos nós formamos um só corpo: judeus e gregos, escravos e homens livres, batizados num só Espírito constituímos um só Corpo, afirma São Paulo na 2a Leitura (1 Coríntios 12,3b-7,12-13). Apesar da diversidade de carismas dentro da Igreja, o Espírito Santo gera comunhão; deste modo, a diversidade dos dons recebidos por cada um constrói a unidade da grande família de Deus, dispersa pelo mundo inteiro.
Costumamos dizer que a Páscoa é o início da nova Criação. E assim como no princípio o Espírito de Deus pairava sobre as águas, dando vida às criaturas, assim também agora, o Espírito Santo está presente, insuflando aos homens, mortos pelo pecado a nova vida de Jesus ressuscitado, vivo e glorioso. Na tarde da Ressurreição Jesus oferece aos seus discípulos o poder de perdoar os pecados, restituindo a vida da graça e a paz divina aos pecadores: diz o Evangelho deste Domingo (João 20,19-23): “recebei o Espírito Santo! Àqueles a quem perdoardes os pecados eles lhe serão perdoados”. A humanidade reconciliada com Deus pela Morte e Ressurreição de Cristo poderá sempre pedir ao Espírito Santo que lave as suas manchas, como rezávamos na sequência da Missa.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen