Solenidade de todos os santos

Neste dia celebramos com alegria a vida destes nossos irmãos, agora plenamente realizados na glória celeste, como Igreja triunfante. Eles já vivem a plenitude da vida eterna, aguardando ainda a ressurreição final. Quem são estes nossos irmãos, no céu, os quais chamamos de santos? A maioria deles nós sequer sabemos os nomes… Eles pertencem a todas as nações, tribos, povos e línguas, como nos ensina a 1ª Leitura da Missa de hoje (Apocalipse 7:2-4,9-14). Formam uma multidão incontável. Todos, garantidamente, procuraram viver as bem-aventuranças em suas vidas. Cada um respondeu ao convite do Senhor à sua maneira, segundo a sua própria vida. Hoje, a Igreja nos mostra esses irmãos e irmãs que estão unidos na glória do céu.

Em hospitais, presídios, conventos, paróquias, fábricas, nos campos e nas cidades, morando com suas famílias ou sozinhos, servindo nos lugares e situações mais diferentes, formaram um verdadeiro exército de amor, misericórdia e bondade. São milhões de pessoas como nós, que doaram amorosamente suas vidas a Deus e pelo bem de seus irmãos.

Heróis desconhecidos são os santos. Hoje, também, existem aqueles fortes “candidatos” à santidade: são mães que acordam cedo para cuidar dos filhos e deixam as refeições prontas em casa porque só voltam à tarde depois de um dia agitado de trabalho. São pais envolvidos na luta pelo emprego, luta esta já não fácil, e que inventam alternativas aqui e ali para equilibrar os seus parcos orçamentos. São jovens que resistem à civilização das conveniências e prazeres fugazes do mundo de hoje, buscando viver com amor a Deus e resistindo valentemente à ideia dominante na sociedade de que é melhor “deixar para lá as coisas da fé, é melhor viver e aproveitar a vida”, tentando fazer o que sua consciência lhes diz e o que o Evangelho lhes ensina, mantendo-se fieis aos seus antepassados e à fé que receberam como cristãos.

São pescadores que todas as noites vasculham o mar em busca do pão de cada dia, indiferentes aos perigos que os cercam. Agricultores que suportam às vezes o clima adverso, usando suor e lágrimas para extrair da terra o alimento de que todos precisamos. São os educadores que dedicam suas vidas a ajudarem nossas crianças e nossos jovens a adquirirem o conhecimento e a sabedoria para o colocar em prática.
São motoristas de ônibus e caminhões, responsáveis por milhares de vidas. São policiais chamados para servir, sem saber dos perigos que a escuridão e a maldade dos outros escondem para si. São os médicos e enfermeiras assistindo os sofredores no silêncio do hospital. São aqueles que, na calada da madrugada, recolhem o lixo que deixamos em nossas portas.

Enfim, milhares de homens e mulheres que, como nós, têm nomes e rostos, carne e sangue, e acima de tudo, amam a Deus e ao próximo, buscando fazer o seu trabalho por amor a Deus e para servir os irmãos.

Quantos ainda renunciam a formar uma família, de terem dinheiro e de um futuro humano brilhante, para se tornarem servos de todos, movidos por sua sincera fé em Deus e em Jesus Cristo, e encontram-se hoje e sempre como importantes coadjuvantes de Deus, com atos concretos de heroísmo, marcados pela misericórdia e pela compaixão dos que mais precisam.

Afinal, nosso mundo não é tão ruim quanto às vezes é retratado. O mal, por ser uma anomalia, está cada vez mais nas notícias que chegam às nossas casas. Mas a bondade, o altruísmo e o heroísmo que pessoas de todas as idades praticam, todos os dias, também são uma realidade reconfortante, provando que Deus não abandona sua criação.

Celebremos todos os santos. Peçamos sua intercessão votiva, junto de Deus. E lutemos com as forças humanas que temos, para colaborar com a Graça de Deus e sermos santos também, pois foi para essa vocação que o Senhor nos chamou.

Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen