Todos os santos
A solenidade de “Todos os Santos” celebra, “junto com os santos canonizados, todos os justos de toda raça e nação, cujos os nomes estão inscritos no livro da vida (cf. Apocalipse 20,12)”. O prefácio da missa reza: “Festejamos hoje, a cidade do céu, a Jerusalém do alto, nossa mãe, onde nossos irmãos, os santos, vos cercam e cantam eternamente o vosso louvor. Para esta cidade caminhamos, pressurosos, peregrinando na penumbra da fé. Comtemplamos, alegres, na vossa luz tantos membros da Igreja, que nos dais como exemplo e intercessão”.
Os santos não são um grupo restrito de eleitos e privilegiados, mas uma multidão inumerável, para a qual a liturgia exorta a levantar o olhar. Nesta multidão estão os santos canonizados, isto é, os que foram oficialmente reconhecidos. A Igreja ensina que “são dignos de especial consideração e honra aqueles cristãos que, seguindo mais de perto as pegadas e os ensinamentos do Senhor Jesus, ofereceram de forma voluntária e, livremente, a vida pelos outros, perseverando até a morte neste propósito”. A primeira via clássica da beatificação é o martírio. É aceitação voluntária da morte violenta por ser cristão, seguidor de Cristo, além de viver o martírio, como Cristo viveu, isto é, com mansidão e o perdão dos agressores. A segunda via é das virtudes heroicas, isto é, tornar as virtudes como modo habitual de ser e de agir em conformidade com Evangelho. Trata-se das virtudes teologais (fé, esperança e caridade), cardeais (prudência, justiça, fortaleza, temperança) e outras como pobreza, obediência, castidade e humildade.
Porém são poucos os batizados, de todas as épocas e nações, que tem a sua vida examinada num processo de canonização para serem declarados santos. A Igreja tem consciência desta limitação e reconhece que a maior parte dos santos não reconhecemos os rostos e nem sequer se sabe os nomes, mas com os olhos da fé resplandecem, como astros de glória, no firmamento de Deus. Lembrar desta multidão de santos anônimos é afirmar que a santidade é feita de pequenas ações, palavras bem dirigidas e a vivência das virtudes no dia a dia.
A santidade é um dom e uma graça. A 1ª carta de São João afirma: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! (…) Sabemos que, quando Ele se manifestar seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é. Todo o que espera nele, purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1 Jo 3,1-3). A resposta ao dom e a graça recebidos corresponde a resposta humana sem a qual a santidade seria desumana e mágica. O traçado da resposta humana está nas bem-aventuranças, síntese e anúncio fundamental de todo cristianismo.
“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mateus 5,1-12).
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo