Transfigurados em Cristo

Estimados Irmãos e Irmãs, assíduos ouvintes e leitores da Voz da Diocese. Em comunhão fraterna, à luz da fé na Ressurreição que nos move a caminhar cheios de esperança, vivemos nesta última semana a perda precoce e inesperada de um sacerdote diocesano, Padre Claudino Talaska, com apenas 56 anos de vida e 28 de ministério presbiteral. Gostaria, aproveitando este espaço, para manisfestar minhas condolências à familia Talaska, ao Clero e a todos os fiéis, que de forma direta ou indireta tiveram o privilégio de conviver com nosso irmão falecido. Cremos na Vida Eterna, e, por isso, para quem crê a morte não é o fim-fim, mas um fim-plenitude, cuja vida desabrocha para a eternidade, junto de Deus.

Dando continuidade à Quaresma, chegamos na segunda etapa de nosso caminhar rumo à celebração da festa pascal. Quaresma é um tempo de penitência e conversão, tempo de renovação interior e da nossa práxis cristã. Desta forma, a Liturgia da Palavra e da Eucaristia, nesse 2º Domingo da Quaresma, convoca-nos a subir o Monte Tabor para fortalecer a nossa fé cristã e contemplarmos o Cristo transfigurado. A vivência da espiritualidade quaresmal, com a prática das obras corporais, ensinadas por Jesus e pela Igreja, e a perseverante escuta da Palavra de Deus, torna-se itinerário de nossa transfiguração em Cristo. Em seu caminho rumo ao Calvário, Jesus faz uma parada no monte Tabor. Ele quer ensinar aos seus discípulos-seguidores a contemplar o sentido e significado último da Cruz. Não existe cristianismo sem cruz. Todavia, o seguimento de Cristo não para na Cruz, pois depois da Cruz vem a Luz que plenifica a vida.

O evangelista Lucas nos relata que Jesus foi ao Tabor para orar, levando consigo Pedro, Tiago e João. Envolto de glória, acompanhado por Moisés, que representa a Lei, e Elias, os Profetas, o texto sagrado centraliza sua intenção, nas palvras que emana da nuvem, sinal da manifestação de Deus Pai: “Este é o meu Filho, o escolhido, escutai o que Ele diz! ” (Lc 9,35). Nosso compromisso cristão no mundo, a partir da escuta e da vivência das palavras, atitudes e gestos de Jesus, está na procura de transfigurar as realidades terrenas que não estão de acordo com o Plano de Deus, com a finalidade de realizarmos a construção do Reino de Deus, um Reino de paz e fraternidade universal.

Irmãos e irmãs, a transfiguração deste mundo, sua adequação ao Reino de Deus, fruto do anúncio e da vivência de Jesus, deve iniciar com a renovação de nossa Aliança com o Deus único e verdadeiro, seguindo o exemplo de nossos primeiros pais na fé, Abraão e Sara, que confiaram plenamente nos planos do Senhor Deus e se colocaram como seus fiéis servidores.

Na segunda leitura, São Paulo ensina que todos nós, chamados filhos de Deus em Cristo Jesus, devemos, todos os dias, iniciar e reiniciar, não obstante as dificuldades e obstáculos que a vida se nos impõem, o nosso caminho de fé como imitadores de Cristo, e não como inimigos da sua Cruz, pois desta forma nosso destino será a perdição e não a transfiguração da vida. Como amigos da Cruz de Cristo, não podemos esmorecer na empresa de construirmos um mundo mais solidário e justo. Às vezes nos parece que em meio a tantas desgraças sociais, conflitos e guerras motivadas tão somente pelo poder econômico, político e domínio territorial, não existe mais perspectiva de transformação, de mudança, de transfiguração. Entrentanto, não podemos desanimar. Ao contrário, assim como os discípulos de Jesus, pela sua transfiguração no Tabor, puderam entrever a luz da glória no fim do caminho, assim tenhamos a certeza de que a caminhada da cruz é a caminhada da glória, ainda para este mundo.

Prezados irmãos e irmãs, como cristãos inseridos na sociedade, precisamos lançar sementes de esperança e vida, inspirados pela Campanha da Fraternidade deste ano, assumindo o nobre empenho de “Falar com sabedoria e ensinar com amor” (Pr 31,26). Nosso compromisso é com uma educação balizada nos princípios da promoção e defesa da dignidade humana, oportunizando a todos uma experiência vivaz com o transcendente, criando uma cultura do encontro fraterno entre os povos e no cuidado da Casa Comum, no qual todos os seres devam ser respeitados e protegidos. Assim, o mundo será transfigurado num mundo de paz, de amor, de perdão, de concórdia, de respeito com a rica diversidade cultural, enfim num mundo em que “todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10), conforme o desejo de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém!

Deus abençoe a todos!

Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erexim