Um Novo Pentecostes

A experiência da Igreja nascente – os apóstolos estavam reunidos com Maria em isolamento social por medo de passar pela mesma sorte do Mestre, no qual tinham depositado toda a sua esperança – se repete nos momentos cruciais da história da Igreja e da humanidade.

Será que algo parecido não pode acontecer ao passar por essa pandemia que nos obrigou ao isolamento social? O Espírito Santo está sempre agindo no coração humano e, consequentemente, na história da Igreja e da humanidade. De modo muito sutil, quase imperceptível, é o principal protagonista do desenvolvimento humano e cristão. Precisamos dele para saber o que Deus espera de nós ao permitir que esse vírus microscópico parasse o mundo.

Todos prostrados diante dele, dos mais humildes aos poderosos do mundo; trancados em casa para não sermos contagiados e nem contagiar. As igrejas vazias e os hospitais cheios. Escolas fechadas, fábricas paradas. Aglomeração? Só nas funerárias onde ajuntam cadáveres que aguardam sepultamento sem encomendação e nem presença dos entes queridos.

É muito difícil saber o que Deus nos quer dizer com essa realidade. É um discernimento que precisamos fazer juntos, como Igreja e como sociedade. Penso eu que cada família, grupo, movimento, comunidade, paróquia, diocese, devam dar um tempo de qualidade para refletir com profundidade sobre isso.

Todos concordamos que passada essa pandemia a vida será diferente. O voltar ao normal, também, será um normal diferente. Muitas iniciativas positivas vão ficar impregnadas na vida. Que o ar ficou mais puro e que se respira melhor é visível, mas será que alguma medida será tomada com relação à saúde do planeta?

Os avanços tecnológicos e a massificação acabaram afastando as pessoas entre si a tal ponto de não poucos perderem o sentido e o valor da vida. Certamente, o isolamento pelo qual, de certa forma, passamos, provocou uma maior aproximação dos membros das famílias e maior valorização das pessoas.

Quem não reconhece a quantidade de gestos de partilha e solidariedade promovidos pelas mais variadas instituições, tanto civis como eclesiais, empresas públicas e privadas, ONGs, meios de comunicação… Nossas pastorais sociais nunca distribuíram tanta comida e material de higiene como nesse tempo. Isso indica que somos um povo de bom coração.

Lembrando que “Estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar…”.

No nosso caso, mais que um vento impetuoso, parece ser uma brisa suave, mas com o mesmo poder de persuasão. Cabe a nós saber reconhecer, nas entrelinhas dos acontecimentos, os apelos de Deus. Tomara que passado esse clima de incertezas possam nascer muitas certezas e convicções que nos empurrem para fora, para dar testemunho do Crucificado-ressuscitado, com o mesmo poder e ardor dos apóstolos.

Para refletir: Quais lições e ensinamentos ficam para mim dessa experiência dolorida da pandemia? Não será a partilha, o caminho a ser percorrido? Nesse tempo que ficamos mais em casa, não soprou o vento do Espírito fazendo-nos perceber alguns valores que tínhamos esquecido? Não sentimos no ar uma nova disposição a colaborar na construção de novas relações de fraternidade e corresponsabilidade para que todos estejam melhor e que o nosso planeta seja mais habitável?

Textos bíblicos: At 2,1-11; Jo 20, 19-23; Sl 102(104).

Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório