Uma Igreja em Saída

O mandato missionário do Senhor começa com o verbo Ir. A missão pressupõe, também, sempre sair de si, do seu mundo, dos seus interesses, para se aventurar em novos ambientes, entre novas pessoas. A missão requer itinerância. O Papa Francisco recordou-nos, muitas vezes, essa perspectiva com uma expressão que já se tornou proverbial: a “Igreja em saída”.  Para o Papa “a fé ou é missionária ou não é fé. A fé não é uma coisa só para mim, para eu crescer com fé; isso é uma heresia gnóstica. A fé sempre leva você a sair de si mesmo. A fé deve ser transmitida, deve ser oferecida, sobretudo com o testemunho”.

Uma nova realidade, entretanto, impele-nos a examinar nossos métodos de anunciar o Reino de Deus. É urgente rever nossa forma de iniciar na fé e fortalecer o senso de pertença numa comunidade eclesial. Igualmente, precisamos participar ativamente da promoção do bem comum. Nossa presença nas questões públicas, sociais e culturais é indispensável. A missão se faz com palavras e gestos. As obras colaboram com a doutrina, e as palavras devem proclamar as obras. Não há como separar a relação entre fé e vida, entre culto e ética, entre amor a Deus e amor aos irmãos.

Num mundo marcado por ambiguidades e compulsões, somos chamados a vencer a tentação de nos acomodarmos; precisamos evangelizar, anunciando que há outro estilo de vida possível: o do Reino de Deus, experimentado entre o já e o ainda não realizado. Diante dos apelos para distrair e anestesiar o sentido da vida e a ética, somos vocacionados a vencer a era do vazio e a sociedade do cansaço pelo anúncio/testemunho da Boa-Nova do Reino.

O artesão da Evangelização é o Espírito Santo, derramado sobre os Apóstolos em Pentecostes.  E um dos sinais de que a comunidade primitiva era dócil ao Espírito de Jesus, é que a cada dia o Senhor aumentava o número dos que eram salvos (At 2,47). Portanto, não podemos ficar numa pastoral de manutenção que faz sempre o mesmo e o mínimo para manter o que já existe. O amor é sempre criativo. Precisamos de uma ousadia missionária. Uma fé sem amor pode se acomodar em práticas religiosas incapazes de converter ao Evangelho até mesmo aqueles que já se encontram no caminho da fé.

Necessitamos, portanto, de uma evangelização que seja cada vez mais propositiva e criativa. Não sejamos reféns de radicalismos e nem de fanatismos e, tampouco, da secularização, da privatização da religião ou de um ateísmo prático que tendem a entristecer e obscurecer a luminosidade da fé. É tempo de sermos mais místicos, mais propositivos e mais proféticos.

É preciso ouvir a voz de Jesus a repetir aqui e agora: Ide, transmiti a fé às novas gerações, fazei discípulos entre os pobres, no mundo da educação, nas famílias e entre os jovens. Ide ao campo e à cidade, ide ao encontro de todas as periferias geográficas e existenciais. Ide a todas as etnias, não esquecei de ninguém. Ide, formai comunidades discipulares. Ide, cuidai da Criação, vossa Casa Comum. Ide… Saí de vós mesmos até chegardes, enfim, ao Reino que o Pai vos preparou. E eu estarei convosco até o fim.

Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3