Uma Igreja para o terceiro milênio

O tema da “sinodalidade” vem adquirindo especial importância desde o Vaticano II (1962-1965). A palavra “sínodo” significa caminhar juntos e caminhar na mesma direção; é um caminho que se faz junto a alguém, com a comunidade, com a Igreja.

O Papa Francisco reiteradas vezes expressa que “o caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio” e afirma que “uma Igreja sinodal é uma Igreja da escuta… É uma escuta recíproca, onde cada um tem algo a aprender e algo a ensinar”. Para Francisco, “a sinodalidade é uma dimensão constitutiva da Igreja”. Não se trata de escolher se quero ou não ser sinodal, não é questão de opção. A sinodalidade também não é uma questão restrita a organização ou funcionamento eclesial, mas pertence à própria natureza da Igreja. A Igreja será sinodal ou perderá o foco e a sua própria identidade original.

O Papa explica a organização sinodal de forma muito intuitiva: “Nesta Igreja, como numa pirâmide invertida, o vértice encontra-se abaixo da base. Por isso, aqueles que exercem a autoridade chamam-se ‘ministros’, porque, segundo o significado original da palavra, são os menores no meio de todos”. E, num tal horizonte, o sucessor de Pedro nada mais é do que servo dos servos de Deus” (Francisco no discurso por ocasião da celebração dos cinquenta anos da instituição do Sínodo dos Bispos).

Há diversos níveis de exercício da sinodalidade na Igreja. No primeiro, os Conselhos de Pastoral e Administração das comunidades, capelas e paróquias. O segundo realiza-se nas Igreja particulares, com seus vários organismos de comunhão, as instâncias diocesanas: Conselho de Presbíteros, Conselho de Pastoral Diocesano, Assembleia Diocesana. No terceiro nível estão as Províncias Eclesiásticas e as Conferências Episcopais (CNBB). O quarto nível é o da Igreja universal, com o Sínodo dos Bispos. “O Sínodo dos Bispos, representando o episcopado católico, torna-se expressão da colegialidade episcopal dentro duma Igreja toda sinodal”, afirma Francisco.

Para bem compreender a sinodalidade, é importante retomar a eclesiologia do Concílio Vaticano II, que apresenta a Igreja como “mistério”, sinal e instrumento de comunhão, e como “Povo de Deus”, no qual há diversidade de vocações e ministérios, mas “reina entre todos verdadeira igualdade quanto à dignidade e ação comum a todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo” (Lumen Gentium 32).

O Papa Francisco é um dos papas mais sinodais da Igreja. Ele não se preocupa em ficar reafirmando constantemente o primado petrino, mas o entende como serviço; insiste na descentralização do papado; valoriza as conferências episcopais; enfatiza a valorização dos leigos e das mulheres. No entanto, temos uma Igreja com estrutura monárquica, pouco evangélica e pouco missionária. Ainda temos um longo caminho a percorrer, com muitos desafios a superar, para que sejamos a Igreja que Deus espera de nós.

Conforta-nos saber que o Senhor está conosco: “E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!” (Mt 28,20).

Dom José Mário Scalon Angonese – Bispo Diocesano de Uruguaiana