Uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão

O Concílio Vaticano II (1962-1965) recuperou a compreensão da Igreja como Povo de Deus composto por todos os batizados, homens e mulheres de boa vontade que se colocam a caminho no anúncio da pessoa de Jesus e de seu projeto. Somos chamados a “caminhar juntos”, pois assim o amor de Deus nos desafia. Caminhar juntos é a essência da sinodalidade, pois ninguém que professa a fé católica pode ficar de fora.

O Concílio percebe, diante dos desafios da sociedade pós-moderna, que o melhor jeito de ser Igreja é o jeito sinodal. A sinodalidade é um processo que exige esforço coletivo e a busca contínua de aprender a “caminhar juntos”. Não é tarefa fácil, exige muita paciência e profunda conversão de todos ao projeto de Deus.

No jeito sinodal de ser Igreja cada pessoa é importante, tem voz, é ouvida, capacitada e envolvida na realização da missão. Não se trata de uns mandar nos outros, mas de nos colocarmos entre iguais para juntos fazer a experiência de fé, frente aos desafios para a vivência da fé cristã em nosso tempo.

A Igreja em sua ação evangelizadora é chamada a fazer uma profunda revisão de vida, desafiar os fiéis a desenvolverem o sentimento de pertença, assumindo o processo sinodal de comunhão, participação e missão, para construir um mundo mais justo, solidário, sinal do Reino de Deus. Assegura o Papa Francisco: “É precisamente este caminho de sinodalidade que Deus espera da Igreja do terceiro milênio” (Sínodo 2023-2024, Documento preparatório).

As palavras-chave desse Sínodo, cujo tema é justamente a sinodalidade, são: comunhão, participação e missão. O Concílio Vaticano II esclarece que a comunhão exprime a própria natureza da Igreja e, ao mesmo tempo, afirma que a Igreja recebeu “a missão de anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constitui o germe e o princípio deste mesmo Reino na terra” (LG 5). Comunhão e missão, bem vividos, levam a participação.

O citado texto preparatório afirma: “Todos nós somos chamados em virtude do nosso Batismo a ser participantes ativos na vida da Igreja. Nas paróquias, pequenas comunidades cristãs, movimentos leigos, comunidades religiosas e outras formas de comunhão, mulheres, homens, jovens e idosos, todos somos convidados a escutar uns aos outros para ouvir os impulsos do Espírito Santo, que vem para guiar os nossos esforços humanos, dando vida e vitalidade à Igreja e conduzindo-nos a uma comunhão mais profunda para a nossa missão no mundo”.

Os apóstolos Pedro e João, depois da experiência de fé que fizeram, concluem: “Pois não podemos, nós, deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (At 4,20). É um convite a cada um de nós para tornar conhecido o que temos no coração. Essa missão é e sempre foi a identidade da Igreja: “Ela existe para evangelizar” (Paulo VI, EN 14). Quando nos isolamos nossa vida de fé enfraquece, perde o encantamento, o sentimento de pertença e a alegria e, finalmente, perde a identidade cristã.

A Igreja do terceiro milênio deve ser toda sinodal: Comunhão, Participação e Missão.

Dom José Mário Scalon Angonese – Bispo Diocesano de Uruguaiana