Vai e não tornes a pecar

O Evangelho de hoje (João 8,1-11) continua a lembrar-nos a misericórdia de Jesus, sempre pronto a perdoar. Mesmo que alguém tivesse cometido os maiores crimes do mundo, tem ainda aberto para si o coração de Cristo, que nos lava no seu sangue, que nos limpa de todo o pecado.

A nossa reconciliação com Deus passa pelo sacramento da Reconciliação. Ao instituí-lo, no dia da Páscoa, Jesus diz aos apóstolos: «àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes serão retidos» (João 20, 23). Jesus concede aos apóstolos esse poder e ensina que só neste Sacramento dará o perdão. Por isso pensam erradamente os que afirmam que se confessam diretamente a Deus. Ele, que é o ofendido, é que põe as condições e não nós, que somos quem o ofendeu.

É preciso estimar muito este Sacramento maravilhoso. É o Sacramento da alegria, que nos tira de cima das costas o peso dos nossos pecados. Na confissão podemos sempre começar uma vida nova e ser nova criatura, de que falava São Paulo. Os sacerdotes precisam sempre animar-se para este ministério tão importante, hoje que se veem tão absorvidos por muitos trabalhos.

Na cena da mulher adúltera que escutamos no Evangelho de hoje, o Senhor perdoa-lhe o pecado, mas lembra: Vai e não tornes a pecar. Um elemento próprio do arrependimento e uma das suas manifestações é o propósito de emenda. Embora saibamos que podemos voltar a cair estamos dispostos a lutar seriamente para evitar todo o pecado. Temos de pedir ao Senhor a graça duma verdadeira contrição com o propósito decidido de evitar o pecado. Pode ser a forma de fazermos melhor a nossa confissão nesta Quaresma.

Mas o mais importante dos atos do penitente é a contrição ou dor de amor. Ao menos a contrição imperfeita, arrepender-se pelo mal do pecado, pela perda do paraíso ou temor do castigo do inferno.

O melhor sinal de arrependimento e propósito de emenda é o desejo sério de sermos santos, sem querer ficar na metade do caminho. Ouvíamos como São Paulo, na 2a Leitura (Filipenses 3,8-14) exclamava: “Não que já tenha recebido tudo isso, ou que já seja perfeito. Mas corro para alcançá-lo, visto que já fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, eu não julgo já tê-lo alcançado. Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente. Corro direto para a meta, rumo ao prêmio, que, do alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus”.

O mal de muitos cristãos é ter medo de serem bons demais. Por vezes até criticam os que pretendem viver o cristianismo com todas as suas consequências. Chamam-lhes radicais, fundamentalistas, etc. Muitos santos foram incompreendidos e perseguidos por gente boa, por viverem a sério a sua vocação cristã. Não nos assustemos. Animemo-nos a amar ao Senhor sempre mais, pois a medida para amar a Deus é amá-lo sem medida

Foi assim que o Senhor nos amou. A Igreja põe-nos nestes dias diante dos olhos a Paixão e Morte de Cristo. Olhemos para Jesus crucificado. É livro aberto que nos fala do amor sem limites que nos tem. Neste tempo santo o Senhor bate à nossa porta, convidando-nos a lutar mais a valer pela santidade, a empregar os meios que põe à nossa disposição. A Igreja convida-nos a viver melhor a Eucaristia, alimentando-nos do Corpo de Cristo. Mas não basta comungar. É preciso confessar-se também. A confissão frequente é a melhor forma de nos prepararmos para a comunhão.

Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen