Valor da celebração da palavra
Caros diocesanos. Continuamos no mês da Bíblia e voltamos a destacar a importância das celebrações da Palavra de Deus, pois em muitas comunidades, por vezes, ainda não lhe damos o devido valor celebrativo, como forma de presença do Senhor entre nós (cf. Jo 1, 14). Nosso objetivo, portanto, será ajudar na descoberta da “sacramentalidade” que as celebrações da Palavra proporcionam (VD 56).
Em mensagem anterior, já apresentamos síntese do mais recente documento da CNBB sobre o tema: “Ministério e Celebração da Palavra” (Doc. CNBB 108). O texto contém o seguinte teor: “Fundamentação bíblico-teológica e orientações pastorais do Magistério Universal e da CNBB, com relação aos ministérios em geral e, em particular, ao ministério da Palavra…confiado aos cristãos leigos e leigas” (n. 1). Portanto, esse documento se ocupa especificamente do ministério da Palavra, confiado aos cristãos não ordenados. O subsídio tem como objetivo fornecer às dioceses linhas básicas e diretrizes gerais para elaboração de plano de formação e acompanhamento de Ministros da Palavra.
Sempre mais nos damos conta da importância das celebrações da Palavra e da necessária preparação de ministros idôneos e dignos para presidi-las, pois nelas é inquestionável a presença de Cristo na palavra proclamada, assim como também na comunidade de fé e oração. Neste sentido o Documento de Aparecida vem ajudar-nos, ao afirmar que os fiéis impossibilitados de participar da eucaristia “podem alimentar seu já admirável espírito missionário participando da ‘celebração dominical da Palavra’, que faz presente o Mistério Pascal no amor que congrega (1Jo 3, 14), na Palavra acolhida (cf. Jo 5, 24-25) e na oração comunitária (cf. Mt 18, 20)” (DAp 253). O que nos leva a concluir que as celebrações da Palavra, com ou sem distribuição da eucaristia, são verdadeiras celebrações litúrgicas (SC 7), ou seja, atua-se nelas o mistério da história da salvação (centralizado em Cristo-Páscoa) na vida da comunidade (Igreja) pela ação do Espírito Santo. É a renovação da aliança, o encontro de diálogo entre Deus e seu povo, reunido na fé, que celebra a sua vida.
Esta celebração da Palavra atua e frutifica à medida que houver resposta de fé e compromisso de vida da parte dos que escutam, isto é, dos que respondem. Dessa forma a proclamação da Palavra de Deus faz acontecer a memória de Cristo, pois ela torna-se hoje para nós, no aqui e agora da vida concreta, e continua a salvar, pois “sempre Cristo está presente em sua Palavra… A Palavra de Deus, portanto, constantemente anunciada na Liturgia, é sempre viva e eficaz pelo poder do Espírito Santo e manifesta aquele amor ativo do Pai que jamais deixa de agir entre os homens e as mulheres” (OLM 14). Por isso, as comunidades de fé que celebram na ausência do sacerdote não estão órfãs; Cristo habita em seu meio; sua graça é também poderosa nessas comunidades, e não só naquelas que celebram a Eucaristia que, sem dúvida, é a celebração dominical de máximo valor. Isso nos tranquiliza, uma vez que o Documento 43 da CNBB (Animação da Vida Litúrgica no Brasil, n. 25) – mostra que a maior parte do povo fiel brasileiro (cerca de 70%) não conta ordinariamente com o presbítero para a celebração dominical dos sacramentos, particularmente da Eucaristia; e nem por isso fica sem o alimento da fé, da comunhão e renovação do compromisso de vida através da celebração da Palavra na comunidade de fé. O que não nos dispensa de enfrentar o desafio vocacional para que todas as comunidades de fé tenham acesso à eucaristia (Cf. Sínodo da Amazônia). O Senhor nos envie operários para a messe: dignos ministros da Palavra e da Eucaristia.
Dom Aloísio A. Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul