Vida é dom e tarefa
Cuidar da vida e promover a vida! Eis o desafio sempre atual. A vida é o que mais desejamos para todos. Reconhecemos que ela está envolvida pela dimensão do mistério.
A tão almejada vida saudável pressupõe o bem-estar físico, mental, social e espiritual. Somos assim recordados a respeito de distintas dimensões que compõem a própria existência humana. Nunca é demais evocar a harmonia existente entre corpo e espírito, pessoa e ambiente, personalidade e responsabilidade.
A Carta dos Usuários da Saúde, em seu artigo 4º, afirma que “toda pessoa tem direito ao atendimento humanizado e acolhedor, realizado por profissionais qualificados, em ambiente limpo, confortável e acessível a todos. É direito da pessoa, na rede de serviços de saúde, ter atendimento humanizado, acolhedor, livre de qualquer discriminação, restrição ou negação em virtude de idade, raça, cor, etnia, religião, orientação sexual, identidade de gênero, condições econômicas ou sociais, estado de saúde, de anomalia, patologia ou deficiência”.
A pessoa tem a dignidade de Deus, embora modelada pela fragilidade e precariedade. Ela carrega a marca da criaturalidade, ou seja, da dependência e não a autossuficiência. Somos partícipes de algo que nos ultrapassa.
A existência pessoal deve, pois, ser considerada desde o momento em que a sua individualidade biológica é posta no ser. Assim, uma pessoa de 80 anos foi uma criança de 5 anos, um bebê recém-nascido, um feto de 6 meses, e um embrião apenas concebido. Em todas as fases, é sempre o mesmo indivíduo, marcado por dignidade. Estamos já sempre diante de um ser humano, jamais diante de uma coisa. Por isso, a vida humana, em qualquer estágio ou situação em que se encontre, é sagrada e inviolável. Seu desprezo é algo deplorável e desprezível.
O direito à vida é um direito fundamental, exigindo atitudes complementares, que são deveres a ele associados. Nobre tarefa a da técnica e da ciência de, a partir da ética, cuidar e promover a dignidade da vida humana em todas as suas fases.
Nada justifica a dor de um luto da parte de muitos, expressão da ignorância de alguns e falta de sensibilidade de outros que não reconhecem a vida como dom e tarefa.
Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da CNBB