“Viemos adorá-lo”
Depois de apresentar Jesus nas profecias que o antecederam e o seu nascimento no contexto familiar, na solenidade da Epifania do Senhor a apresentação passa a ser para toda a humanidade. Magos vindos do oriente indicam que o Menino nascido na pequena Belém, cidade periférica de Jerusalém, nasceu para toda a humanidade. Os personagens presentes, no relato de Mateus 2,1-12, representam como será, em toda a história, o posicionamento das pessoas diante de Jesus Cristo. Uns o procuram, o acolhem e desejam adorá-lo; outros o rejeitam e procuram eliminá-lo. O relato ajuda o leitor a relacionar-se com o Jesus e fazer a sua opção.
Os magos são modelo do caminho espiritual de cada homem, são peregrinos no caminho desconhecido em direção ao Absoluto. Audazes, mas não irresponsáveis, estão respondendo a uma chamada, prontos para acolher as solicitações que venham do interior e do exterior. Do interior vem o desejo movendo-os em direção ao Absoluto, movimentam-se buscando respostas e desvendando os segredos. Do exterior são provocados por todos os fenômenos naturais e humanos. A decisão de encontrar as respostas sempre apresenta riscos. No caminho espiritual a escuridão está presente, como na vida humana os imprevistos e surpresas aparecem. Quem não arrisca na vida espiritual e no cotidiano vive uma rotina sem graça e sem gosto. Os magos, como modelos, são sinceros peregrinos em busca de Deus. Foram provocados pelo sinal externo da estrela e ajudados pela revelação bíblica dos profetas confirmada pelos sumos sacerdotes e mestres da lei em Jerusalém.
O objetivo dos magos é apresentar-se a Jesus para “adorá-lo”. O que é adorar? Nos ensina o Catecismo da Igreja Católica nos números 2096 e 2097: “A adoração é o primeiro ato da virtude da religião. Adorar à Deus é reconhecê-lo como Deus, como o Criador e o Salvador e o dono de tudo o que existe, o Amor infinito e misericordioso. “Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto” (Lc 4,8), diz Jesus, citando Deuteronômio (6,13).
Adorar a Deus, é no respeito e na submissão absoluta, reconhecer “o nada da criatura”, a qual não existe a não ser por Deus. Adorar a Deus é, como Maria no Magnificat, louvá-lo, exaltá-lo e humilhar-se a si mesmo, confessando com gratidão que Ele fez grandes coisas e que seu nome é santo. A adoração do Deus único liberta o homem do fechamento em si mesmo, da escravidão do pecado e da idolatria do mundo”.
É comovente a cena do encontro dos magos quando encontram Jesus. “Ao verem de novo a estrela os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra”. Isto é adoração.
Os magos iluminam o caminho para os homens de hoje. Cristo é o dom divino dado à humanidade que pode ser encontrado quando se cruzam duas forças, a iniciativa de Deus e a resposta dos seres humanos. Os magos encontraram Jesus guiados por fenômenos naturais e pelas Escrituras. Temos a nosso dispor os mesmos meios. Somente a natureza não é suficiente, também se faz necessário a Escritura que o salmista define como “lâmpada para os meus pés, luz para o meu caminho” (Sl 119,105). A Escritura também necessita de intérpretes autorizados para clarear seu significado. Os magos se apresentam como pessoas capazes de acolher o que lhes vem de exterior e interior, mas também acolher quem lhes é revelado. Aceitam o Deus que lhes é revelado e o adoram. Eles são exemplos para nós.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo