Vocação e esperança entrelaçam-se
Foram 12 as mensagens do papa Francisco para a celebração do Dia Mundial de Oração pelas Vocações nos seus 12 anos de pontificado. Se em 2013, na 50ª edição do evento, a mensagem foi redigida pelo papa Bento XVI, neste ano de 2025, no 62º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, embora tenhamos Leão XIV como novo papa, a mensagem foi redigida por Francisco. Recordamos que a data foi instituída por São Paulo VI, em 1964, que redigiu 15 mensagens (1964-1978); São João Paulo II elaborou 27 mensagens (1979-2005); Bento XVI chegou a oito (2006-2013). A mensagem deste ano de 2025 foi escrita no dia 19 de março, quando Francisco estava internado no Hospital Gemelli, em Roma. E refletiu sobre o tema do Ano Jubilar: “Peregrinos de esperança: o dom da vida”. O 62º Dia Mundial de Oração pelas Vocações será celebrado no 4º Domingo da Páscoa, 11 de maio.
Assim começa a mensagem: “Neste 62º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, desejo dirigir-vos um alegre e encorajador convite a serdes peregrinos de esperança, doando generosamente a vida”. Poderíamos dizer que o papa falou de si mesmo, um testemunho de doação da vida! “A vocação é um dom precioso que Deus semeia nos corações, um chamado a sair de si mesmo para trilhar um caminho de amor e serviço. E cada vocação na Igreja – seja laical, seja ao ministério ordenado, seja à vida consagrada – é sinal da esperança que Deus nutre pelo mundo e por cada um de seus filhos”, afirmou Francisco. Sim, vocação é dom, presente de Deus, um chamado a servir! Vocação é sinal de esperança! “Toda a vocação é animada pela esperança, que se traduz em confiança na Providência. Com efeito, para o cristão, ter esperança é mais do que um simples otimismo humano: é antes uma certeza enraizada na fé em Deus, que age na história de cada pessoa. E, deste modo, a vocação amadurece através do compromisso cotidiano de fidelidade ao Evangelho, na oração, no discernimento e no serviço […]. A esperança em Deus não engana, porque Ele guia os passos de quem a Ele se entrega. O mundo precisa de jovens peregrinos de esperança, corajosos em dedicar a sua vida a Cristo, cheios de alegria por serem seus discípulos missionários”, lemos na mensagem.
Num tempo com tantos desafios, o papa Francisco descreve no texto a nossa possível sensação de incerteza diante do futuro, seja devido ao contexto de desemprego ou, até mesmo, pela “crise de identidade, que é uma crise de sentido e de valores”. O ambiente digital pode gerar confusão, a “injustiça para com os fracos e os pobres, a indiferença do bem-estar egoísta e a violência da guerra ameaçam os projetos de vida” de muitos jovens. Mas, diante de tudo isso, Deus, “que conhece o coração do ser humano, não nos abandona na insegurança; pelo contrário, quer suscitar em cada um a consciência de ser amado, chamado e enviado como peregrino de esperança”, assegura o papa.
E somos convidados a “acolher, discernir e acompanhar o caminho vocacional das novas gerações”, recorda-nos Francisco. Aos jovens, anima-os a ser “protagonistas, ou melhor, coprotagonistas com o Espírito Santo”, que suscita neles o desejo de “fazer da vida um dom de amor”. E o papa descreve cada uma dessas três palavras vocacionais:
Acolher. Ao escutar a Palavra de Deus o nosso coração arde (cf. Lc 24,32) e sentimos o desejo de consagrar a vida ao seu projeto! “Desejamos descobrir de que modo, em que forma de vida é possível retribuir o amor que Ele primeiro nos dá”, afirma o papa. E recorda o que já tinha dito na Exortação Apostólica pós-sinodal sobre a juventude: “A vida de vocês não é um enquanto isso. Vocês são o agora de Deus” (Christus vivit 178). Faz-nos lembrar de uma antiga canção, ainda hoje ouvida em muitas comunidades neste imenso Brasil: Caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais braços dados ou não […]. Vem, vamos embora, que esperar não é saber; quem sabe faz a hora, não espera acontecer (Geraldo Vandré, Pra não dizer que não falei das flores, 1968). A vida, que é um presente de Deus, exige uma resposta generosa e fiel, “como impulso interior ao amor e ao serviço, como fonte de esperança e caridade”, salienta Francisco. “Oferecer a sua vida pelos outros”, já tinha acenado em seu primeiro documento, aquele de 2013, a Exortação Apostólica Evangelii gaudium (n. 268). “Vocação e esperança entrelaçam-se” neste projeto divino pela alegria de evangelizar.
Discernir. Descobrir a própria vocação é um processo que se desenvolve no seio da comunidade cristã. Mas, exige a experiência do silêncio, pois “Deus fala ao coração”, recorda o papa. E encoraja os jovens a parar para escutar o chamado de Deus, “a perguntar a Deus o que Ele sonha para vós”. O silêncio “é indispensável para interpretar o chamado de Deus na própria história e para dar uma resposta livre e consciente”. A parada para escutar ajuda a “compreender que todos podemos ser peregrinos de esperança se fizermos da nossa vida um dom, especialmente ao serviço daqueles que habitam as periferias materiais e existenciais do mundo. Quem se põe a escutar Deus que chama não pode ignorar o grito de tantos irmãos e irmãs que se sentem excluídos, feridos e abandonados. Cada vocação abre para a missão de ser presença de Cristo onde mais se sente necessidade de luz e consolação”.
Acompanhar. Os animadores vocacionais não devem ter medo de acompanhar os jovens “com a esperançosa e paciente confiança da pedagogia divina”, ou seja, devem escutar e acolher, serem guias sábios, disponíveis para ajudar e atentos a reconhecer os sinais de Deus no caminho dos vocacionados. Devem promover “o cuidado da vocação cristã nos vários campos da vida e da atividade humana, favorecendo a abertura espiritual de cada pessoa à voz de Deus. Para este fim, é importante que os itinerários educativos e pastorais contemplem espaços adequados para o acompanhamento das vocações”.
Na conclusão da mensagem, o papa Francisco reforça o convite para respondermos ao nosso chamado: “A Igreja precisa de pastores, religiosos, missionários e esposos que, com confiança e esperança, saibam dizer sim ao Senhor”. E nos recorda que a “vocação nunca é um tesouro que fica fechado no coração, mas cresce e fortalece-se na comunidade que crê, ama e espera. E como ninguém pode responder sozinho ao chamado de Deus, todos temos necessidade da oração e do apoio dos nossos irmãos e irmãs”.
Por fim, Francisco recorda que a “Igreja é viva e fecunda quando gera novas vocações”. E o mundo procura “testemunhas de esperança que anunciem com a vida que seguir Cristo é fonte de alegria”. Não podemos nos cansar “de pedir ao Senhor novos operários para a sua messe, certos de que Ele continua a chamar com amor”. Que possamos caminhar sempre como “peregrinos de esperança no caminho do Evangelho”, convida-nos o papa.
+Dom Juarez Albino Destro, rcj
Bispo Auxiliar de Porto Alegre (RS)