Vontade de Deus ou imprudência humana?
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório
Todos nós ficamos chocados com o desastre aéreo que vitimou 71 pessoas, no pleno vigor de suas vidas.
Vimos a comoção, não somente dos torcedores da Chapecoense e familiares das vítimas, mas de gente de todas as idades e lugares do mundo.
Minha mãe que raramente me chama, sentiu-se provocada a me ligar para ver como estava. Como sabe que às vezes viajo, despertou nela a preocupação comigo, mesmo que não more tão longe assim: pouco mais 200 km.
Esse desastre mexeu com o emocional de todos. Suscitou algumas perguntas: por que aconteceu? Quem foi o responsável? Foi vontade de Deus? Tinha que acontecer? Estava isso predeterminado? Qual foi a causa mesmo?
Tudo indica, a partir das preliminares análises realizadas pela perícia técnica, que houve imprudência humana. Falta de combustível, significa não ter calculado todas as possibilidades e não ter prevenido com as medidas necessárias.
Uma coisa é certa: não é vontade de Deus que se ponha em risco a vida de pessoas quando se pode evitar. Não é vontade de Deus que essas pessoas morressem desse jeito. Tudo indica que foi imprudência ou falha humana.
O destino a gente faz, contudo o acontecimento faz pensar. Cada um pode buscar sua resposta e tirar suas conclusões. Fiquei muito edificado em saber da resposta do preparador físico Paixão, que há não muito tempo perdeu um filho com 32 anos num acidente e agora outro neste desastre. Emocionado, claro, mas respondeu sereno, quando perguntado como recebia essa perda, falou da importância de estarmos sempre preparados e levarmos uma vida coerente e honesta.
Mas fiquei muito incomodado com nossos políticos, que ao invés de refletirem sobre suas responsabilidades com relação à situação do povo brasileiro e da nação, aproveitaram esse momento de comoção nacional para, na calada da noite, votarem as propostas do projeto anticorrupção, descaracterizando-o com suas emendas e a ação do Supremo Tribunal Federal encaminhar a descriminalização do aborto até aos três meses de gravidez.
Será que os concebidos inocentes no seio de suas mães são menos dignos de compaixão que os 71 adultos que pereceram no acidente? Quem não teria feito todo o possível para salvar mesmo que fosse um só deles? Com quais critérios o todo poderoso Tribunal, decide que até ao terceiro mês os concebidos podem ser suprimidos? Essa não é a vontade de Deus!