Conversão e amor pela vida

 Dom José Gislon – Bispo Diocesano de Erexim

Estamos vivendo o tempo da Quaresma, e a Palavra de Deus faz um convite para percorrermos um caminho de conversão a partir do nosso coração. A conversão, no caminho da fé, indica sempre para a aurora de um novo dia. Ela dissipa as sombras de morte que envolvem o nosso coração e comprometem a nossa caminhada de filhos e filhas de Deus, mas também de comunidade, que através do trabalho e da solidariedade, se empenha para construir uma sociedade, na qual os valores que protegem a vida e o bem comum sejam transmitidos e valorizados. Ela renova não somente a nossa vida interior e a comunhão com Deus, mas também com as pessoas que amamos, que fazem parte da nossa vida na família e na comunidade. Ela nos dá a oportunidade de mantermos viva a esperança no amor, na vida e no amanhã, mesmo quando vemos tantos sinais de morte ao nosso redor.

O caminho da conversão passa pelo coração. Para alguns, talvez, esse seja a percurso mais difícil, porque exige descer ao mais profundo do próprio “eu”, e, ali, faz deparar com as pedras da indiferença, do egoísmo, da autossuficiência, da falta de amor e da caridade, que foram se acumulando ao longo do tempo e acabaram bloqueando a porta de entrada do coração. Tornaram-no um sepulcro de morte, ao invés de um lugar aberto para acolher a graça de Deus e sua Palavra que alimentam a vida.

Quando deixamos de acreditar na misericórdia de Deus, deixamos de crer no poder do amor, do perdão e da reconciliação; perdemos a confiança na capacidade de recomeçar a nossa vida e de que a luz do Senhor pode iluminar também o nosso coração. Com a sua presença, podemos não só afastar as pedras que bloqueiam a porta de entrada, mas também abri-la para manifestarmos ao mundo o amor a Deus e ao próximo através das nossas ações.

Um coração aberto à conversão tem sensibilidade para acolher a Palavra de Deus é também aberto à vida, ao amor, ao cuidado da pessoa amada, sem fechar os olhos às realidades do mundo que ferem a vida de tantas pessoas e da mãe natureza. É capaz de manifestar o amor e o cuidado da vida através de pequenos gestos que revelam a nobreza escondida no silêncio do coração.

 

 

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