Fé, o dom de Deus

Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta

“Se você conhecesse o dom de Deus e quem lhe está pedindo de beber, você é que lhe pediria e ele lhe daria água viva” (Jo 4,10). Estas palavras de Jesus à mulher Samaritana fazem parte do terceiro domingo da caminhada quaresmal, que neste ano tem um claro objetivo de renovação da fé batismal. O encontro de Jesus com a Samaritana visa suscitar nela o desejo da água viva, crer nele. A samaritana não conhece outra água, a não ser aquela do poço. Jesus lhe propõe uma experiência transformadora, a verdadeira “água viva”.

Jesus tem a capacidade de despertar na mulher o desejo desta água, que é dom, é gratuita, e supera infinitamente aquela que ela estava acostumada a beber. Desperta nela a fé, o anseio de vida plena.Quantas vidas se encontram perdidas ou anestesiadas na lógica do consumismo, vivendo como se não tivessem sido batizadas, como se Deus não existisse, como se os outros não existissem. Em quantas fontes erradas nosso povo busca água! Água que não sacia! Sem dúvidas nos é pedido que saibamos despertar o desejo de Deus no coração das pessoas, sobretudo dos jovens. Isto porque “o desejo de Deus está inscrito no coração do homem” (CIC 27). A todos os evangelizadores é pedido que tenhamos a atitude da proximidade com as pessoas, sentarmo-nos com elas, escutar sua história, às vezes seus sofrimentos e pecados. Sem este precioso tempo gasto com as pessoas, será difícil que desperte a vontade da “água viva”. Crer não é algo imposto desde fora, uma obrigação. A fé somente será autêntica se ela for desejada, sentida interiormente.“Ao pedir à Samaritana que lhe desse de beber, Jesus lhe dava o dom de crer”, rezamos no prefácio da Oração Eucarística.

O segundo desafio, que é a grande missão evangelizadora,é conduzir a esta fonte, para encontrar-se com Jesus e receber dele a água viva. É um encontro que não é somente um momento, mas um caminho continuado e sempre renovado, que acompanha toda a vida do batizado. É neste encontro que a fé é suscitada e professada. O ponto alto do diálogo é a revelação de Jesus como o Messias, esperado por judeus e samaritanos: “Este Messias sou eu, que estou falando com você” (v.26).Esta fórmula, repetida várias vezes no evangelho de João, recorda o nome de Deus, revelado a Moisés: “Eu sou aquele que sou” (Ex 3,14).Esta fé é “dom de Deus”, que somos convidados a conhecer. Conhecer é mais do que saber doutrinas ou celebrar ritos. É senti-lo vivo em nossa vida, saborear sua presença. É “sentir e degustar as coisas internamente”, como nos diz Santo Inácio de Loyola.

Além de despertar a fé nele como Messias, o encontro com Jesus Cristo possibilitou um processo de integração da vida da Samaritana. A Samaritana percebeu que, na fala de Jesus, sua história estava sendo interpretada. Porém, não havia condenação. Havia acolhida e misericórdia que conduz à verdade que liberta. Reconfigura a vida a partir da fé em Cristo e do seu olhar misericordioso. Quem, na sua vida, sente-se acolhido e amado por Deus, responde, com gratidão, doando-se e fazendo o bem. O Espírito comunicado por Jesus converte-se no interior da pessoa em uma fonte que jorra, oferecendo vida e felicidade a si e aos outros. Por isso, logo vai à cidade e anuncia sua experiência. Convida as pessoas a conhecer “um homem que me disse tudo o que eu fiz” (v. 29). A evangelizada torna-se evangelizadora e provoca nos outros o desejo da “água viva”.

 

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