A busca pelo essencial

Estamos diante de um mundo ou mentalidade que valoriza mais o secundário, a aparência, do que o essencial; um mundo onde as pessoas ficam presas a um detalhe e esquecem da grandeza das coisas sagradas, como aquelas pessoas que ficam discutindo se devemos comungar na mão ou na boca e esquecem do sentido ou do valor da Eucaristia;  esquecendo, também, que o mais importante é se preocupar com o interior, se realmente está limpo, digno de habitação do Senhor.

O superficialismo, o fundamentalismo e o ritualismo são questões que estão ganhando muito espaço nos dias de hoje na Igreja. E tudo não surge por acaso, é fruto de um contexto. A busca exacerbada pelo poder, pela necessidade de ser visto e reconhecido toma o espaço daquilo que é fundamental, isto é, uma formação sólida, discernimento maduro e compromisso evangélico.

Outro fato é que a sociedade moderna perdeu a dimensão sobrenatural da vida humana, do direito de viver e conquistar a felicidade com dignidade, sem ser escravo das coisas. Quanta coisa, coisificando até o ser humano. A vida humana já não tem valor. O “tanto faz como tanto fez” se tornou norma; o fazer por fazer, o gozar a vida e aproveitar tudo hoje.

“Vivemos em plena cultura da aparência: o contrato de casamento importa mais que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas mais do que o corpo e a missa mais do que Deus” (Eduardo Galeano). Dizem que existem pessoas tão pobres, mas tão pobres que a única coisa que elas possuem é dinheiro. Possuem muitos bens, mas não possuem amigos verdadeiros; experimentam muitos prazeres, mas não experimentam a verdadeira alegria; são capazes de construir muitas coisas materiais, mas não conseguem construir uma verdadeira família.

As pessoas que encontram no externo sua realização, as que vivem tão preocupadas com o reconhecimento, é porque carregam um complexo de inferioridade e ou um profundo vazio no seu interior. Assim as coisas não são observadas pelo que são, mas pelo que parecem. Se olha pouco para dentro e se contenta fácil com as aparências. Aqui cabem as palavras do Pequeno Príncipe: “Eis o meu segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”.

As vezes fixamos nossos olhos na aparência e esquecemos que não podemos nos basear apenas naquilo que vemos, ninguém é o que parece ou o que aparece. É fundamental ter o conhecimento mais profundo, para que não façamos um julgamento injusto.

O que falta muitas vezes às pessoas é dar um sentido às suas vidas, a fim de que não sejam vazias. A falta de sentido faz com que as pessoas fiquem mais preocupadas com o exterior e com o que os outros pensam a seu respeito. Sejamos, portanto, pessoas que valorizam a essência, não a aparência, cultivem os valores mais profundos e não caiam na tentação de se tornar um “robô” vivendo mais em função dos outros, querendo ser o que não são.

 

Pe. Jair da Silva – Diocese de Bagé