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A Campanha da Fraternidade

A partir de 1964, a Igreja no Brasil, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), promove a Campanha da Fraternidade como um dos modos de viver a espiritualidade quaresmal. Pretende-se contribuir para uma mudança de vida profunda que leva os cristãos, não somente a pedir a Deus perdão dos pecados, mas também a unir forças na construção de uma sociedade de acordo com a mensagem do Evangelho.

Trata-se de concretizar os princípios da Doutrina Social da Igreja, patrimônio adquirido ao longo dos séculos e ancorado em experiências de santos e santas que tornaram a Igreja Católica a maior organização caritativa do planeta. Caritativa e não meramente filantrópica, pois os gestos de caridade estabelecem uma profunda relação de fraternidade entre quem ajuda e quem é ajudado, pois todos compreendem que temos um único Pai.

A Igreja, no caminho de Jesus, observa as sociedades de diversas épocas, marcadas pela ferida do pecado, e percebe quanto se esquece dos doentes, escraviza-se populações, criam-se massas famintas, dizimam-se etnias em genocídios, promovem-se o terrorismo, matam o feto e a vida perde valor.  E explora-se a criação, nossa casa comum.

Talvez hoje prefira-se outros termos para expressar essa situação de pecado que fere nossa relação com Deus e com as pessoas: crise ética ou crise de valores. Teologicamente trata-se de perceber como o ser humano pode ter um ego inflado e fechar-se em si mesmo, a tal ponto que a dor do outro não lhe cause mais estranheza. Alguns se fecham tanto que acabam negando a existência de Deus e o ensinamento de Jesus Cristo, pois sabem que não subsistiriam diante de suas palavras: tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, estava preso e me visitastes, estava doente e me socorrestes. Assim, não se faz caridade e nem se promove uma Campanha da Fraternidade sem um grande amor por Cristo. Não podemos separar culto e misericórdia, liturgia e ética, adoração ao único e verdadeiro Deus e compromisso com o irmão que padece.

Embora a Campanha da Fraternidade seja especialmente realizada no tempo quaresmal, ela se estende ao longo de todo o ano com diversas iniciativas para rezar, refletir e propor caminhos para passar de um mundo não fraterno, marcado pelo pecado e injustiças, para uma sociedade de irmãos e irmãs.

A cada ano é escolhido um tema, que reflete sobre a realidade a ser transformada, e um lema, que explicita em que direção se busca a transformação. Em 2022 o tema a ser rezado e refletido na Igreja é Fraternidade e Educação, e o lema é “Fala com sabedoria e ensina com amor”. Na introdução do Texto-base da Campanha da Fraternidade de 2022, afirma-se que “refletir e atuar a favor da educação é uma forma de viver a penitência quaresmal. É reconhecer que algo pode e deve mudar neste cenário e, principalmente, em nossas relações. Somos convidados a ver a realidade da educação em diversos âmbitos, iluminá-la com a Palavra de Deus, encontrando e redescobrindo meios eficazes que favoreçam processos mais adequados e criativos a fim de que ninguém seja excluído de um caminho educativo integral que humanize, promova a vida e estabeleça relações de proximidade, justiça e paz. A educação é um indispensável serviço à vida”.

Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria