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A doença e o doente

A vida, a saúde e a doença são realidades humanas envoltas em mistérios. As ciências, com seus aparatos tecnológicos disponíveis, não se encontram em condições de oferecer uma palavra definitiva a respeito delas. O que há são tentativas de responder aos desafios que sempre e de novo a história vai lhes impondo.

As enfermidades, o sofrimento e a morte se apresentam como realidades duras de serem acolhidas. Elas alimentam incertezas, dúvidas, temores e pavores que impregnam a mente e o coração. Quase que naturalmente contrariam os anseios humanos de bem-estar e de vida.

Ninguém escolhe ficar doente. A doença se impõe, não considerando a liberdade humana, além de limitar o direito de ir e vir. Ela é a recordação de que o ser humano é vulnerável e necessitado do outro.

A doença pode ser compreendida como expressão da criaturalidade do ser humano. A partir da fé cristã, dizemos que temos a dignidade de Deus, mas somos modelados pela fragilidade, pela precariedade. Nessa condição, o ser humano é exortado a respeitar as leis da natureza, compreender que tem apenas um período de vida e que precisa desenvolvê-lo dentro de seus limites, sem os excessos que o enfraquecem e debilitam.

A arte da medicina tem como tarefa primordial o cuidado com a saúde e a vida. No entanto, expressões da medicina moderna especializaram-se em administrar remédios às doenças. Com isso ela está se tornando sempre mais farmacologia. Há, porém, um trabalho anterior, primordial a ser realizado. Por isso, a medicina não pode ser vista, por exemplo, como expressão do comportamento daquelas pessoas que começam a abrir um poço, somente depois de sentirem sede, de não mais terem água.

O cuidado para com a saúde pressupõe o aspecto relacional. Ou seja, urge estabelecer um pacto de confiança, respeito e sinceridade entre as pessoas que necessitam de cuidados e aqueles que as tratam, tendo como centro a dignidade da pessoa doente, tutelando o profissionalismo dos agentes de saúde e cultivando um bom relacionamento com as famílias dos doentes. (…) É o que mostra as muitas curas realizadas por Jesus de Nazaré.

“Elas nunca são gestos mágicos, mas fruto de um encontro, de uma relação interpessoal, em que ao dom de Deus, oferecido por Jesus, corresponde a fé de quem o acolhe” (Papa Francisco).

O Dia Mundial do Doente deste 11 de fevereiro nos recorda que uma sociedade é tanto mais humana quanto melhor souber cuidar dos seus membros frágeis e doentes, e o fizer com respeito e eficiência, animada por amor fraterno.

Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre e primeiro vice-presidente CNBB