A força maligna ou benéfica dos joelhos

No esporte, atletas erguem o joelho em direção ao adversário para intimidá-lo ou mesmo para agredi-lo. Quem levou uma joelhada ou bateu o joelho em algum objeto sabe quanto dói.

Desde o dia 25 de maio, repercute em todo o mundo a cena inqualificável do policial com o joelho no pescoço de George Floyd, cidadão negro de Minneapolis, nos Estados Unidos, sufocando-o até falecer em poucos minutos. A cena foi filmada por uma transeunte pelo local. Não fosse este registro colocado nas redes sociais, o fato, certamente, não teria tido repercussão, como o de outras vezes que policiais tenham recorrido ao mesmo expediente naquele país e em outros, com o atenuante de nem ter levado à morte. Desde aquele dia, em muitas cidades norte-americanas, mas também em outros países, há protestos pacíficos condenando a discriminação racial, infelizmente deturpados por aproveitadores infiltrados na multidão para saquear lojas e depredar bens públicos. Infelizmente, como aconteceu com a pandemia do Coronavírus, lá e em outros países, a autoridade maior não manifestou sensibilidade e empatia com o acontecimento, com a vítima e familiares e com os manifestantes.

Já na quarta-feira, no final de sua catequese sobre a oração na audiência pública, o Papa Francisco disse acompanhar “com grande preocupação” as dolorosas desordens depois da “trágica morte do senhor George Floyd”. E enfatizou: “Queridos amigos, não podemos tolerar nem fechar os olhos para qualquer tipo de racismo ou de exclusão e pretender defender a sacralidade de cada vida humana. Ao mesmo tempo, devemos reconhecer que a violência das últimas noites é autodestrutiva e autolesionista. Nada se ganha com a violência e muito se perde.” Ele assegurou estar unido à Igreja de São Paulo em Minneapolis e de todos os Estados Unidos ao rezar pelo repouso da alma de George Floyd e de todos os outros que perderam a vida por causa do “pecado do racismo”. Disse rezar também pelo conforto das famílias e amigos e pediu oração pela reconciliação nacional e pela paz tão desejada.

Aquele joelho criminoso faz lembrar também outros fatores que sufocam muitas pessoas. Recorda igualmente os soldados que ajoelhavam diante de Jesus e zombavam dele (Mt 27,29).

Por outro lado, joelhos lembram a atitude de oração confiante a Deus daqueles que os dobram, reconhecendo-o como Criador e Pai. E então eles têm força imensamente benéfica. O salmista (Sl 95,6) convida a todos a prostrar-se para adorar, de joelhos diante do Senhor que nos criou. Pessoas se aproximavam de Jesus e de joelhos pediam sua ajuda, como um leproso (Mt 82,) ou o pai que intercedeu por seu filho (Mt 17,14-15). Jesus, na noite de sua paixão, no Jardim das Oliveiras, de joelhos se colocou em oração ao Pai (Lc 22,41). Santo Estêvão, ao ser martirizado, dobrando os joelhos, orou a Deus pedindo clemência para seus algozes. São Pedro, numa casa a que fora chamado por causa da morte de uma pessoa que lá residia, ajoelhou-se e pôs-se a rezar. Em seguida, devolveu a vida à que estava morta. Falando do mistério de Cristo, São Paulo confessa que dobra os joelhos diante do Pai (Ef 3,14) e deseja que em o nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra (Fp 2,10).

Dobremos nossos joelhos diante de Deus em adoração reverente e em oração confiante por nós, pela paz, pela saúde, pela vida digna para todas as pessoas. Dobrando os joelhos em oração, seremos muito mais fortes na prática do bem e da justiça.

Pe. Antonio Valentini Neto – Administrador Diocesano