Amai a justiça, vos que governais a Terra
Terminei minha mensagem na semana passada com as palavras que abrem o livro da Sabedoria: “Amai a justiça, vos que governais a Terra” (Sab 1,1), dizendo que falaríamos sobre isso nesta semana.
Com esse Livro entramos no mês da Bíblia. Ao se dirigir aos governantes da Terra, o Livro da Sabedoria logo lhe apresenta um dos conceitos de valor mais importante: a justiça. Esta deve se tornar o alvo do amor, ou seja, quem governa deve sentir paixão pela justiça, sendo que tal adesão irá favorecer o surgimento de outras virtudes importantes como a temperança, a prudência e a fortaleza.
A religião da antiga Israel descreve o seu Deus como quem ama a justiça. Consequentemente, somente um rei ou governante que ama a justiça e odeia a perversidade corresponde aos desígnios de Deus e pode ter um governo abençoado.
Parece-me ser uma perspectiva interessante nesse momento em que estamos conhecendo os candidatos que irão governar nosso amado país. Nos debates políticos e na propaganda eleitoral, pelas suas posturas e pensamentos podemos perceber quem são e se carregam em si aquela sabedoria, aquele equilíbrio e sensatez necessários para governar com amor e justiça. Não basta que falem de Deus, que se apresentem como pregadores e até defensores de alguns valores humanos e cristãos que também defendemos.
Um fator determinante que mostra se uma pessoa ama a justiça é se sabe escutar, ouvir o grito do povo clamando por justiça e paz, por direitos, por condições dignas de vida em todas as suas dimensões.
Tenho a impressão que nos deparamos com um debate entre surdos e não um diálogo entre diferentes. Mais do que nunca, não só os candidatos, mas também nós eleitores precisamos que Jesus – como fez com surdo-mudo do evangelho deste final de semana – toque o nosso ouvido, nosso coração e mente, gritando: “Efatá!”, que quer dizer: “Abre-te!”.
Vivemos um tempo delicado de discernimento e precisamos nos deixar iluminar por aquele que fez os surdos ouvir e os mudos falar. O amor e a paixão pela justiça, pelo bem comum, pela solidariedade é critério indispensável para quem quer que assuma a responsabilidade de nos representar e governar nosso país.
O poema da Sabedoria que começa com “Amai a justiça, vós que governais a terra” (1,1) tem como conclusão “pois a justiça é imortal” (1,15). Isto significa que a justiça é o primeiro e mais importante critério de vida e caminho de salvação e libertação.
Se a justiça vem de Deus, para ser um bom cidadão e sábio governante é necessário deixa-se guiar pelo espírito de Deus. É o que esperamos.
Para refletir:
- Quais são os meus critérios na escolha dos meus candidatos para as eleições em andamento?
- Como entendo esse texto da Sabedoria: “Amai a justiça, vos que governais a terra”?
- A justiça não é o simples legalismo. Como ela está presente e que incidência tem no meu dia a dia? É a justiça critério de discernimento para o meu agir?Textos bíblicos: Sab 1,1-15; Mc 7,31-37; Mt 5,20ss.
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo da Diocese de Osório