Carregar a cruz de cada dia

Dom Antônio Keller – Bispo de Frederico Westphalen 

Jeremias nasceu na Terra Santa por volta do ano 650 a. C. E foi chamado à missão profética aos 23 anos, no reino de Judá. Exerceu o seu ministério um pouco antes da destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, rei de Babilônia (486 a. C.).

O povo hebreu não o compreendeu nem acolheu a sua mensagem como vinda de Deus e considerava-o “profeta da desgraça”, porque o chamava à conversão pessoal. Ontem, como hoje, as pessoas não gostam de exigência que as obriga a mudar.

Jeremias foi continuamente objeto de desprezo e de irrisão e todos o maldiziam e afastavam-se, mal ele abria a boca. Era homem bom, sensível e delicado e sofria terrivelmente pelo abandono e pela solidão a que a missão profética o condenava. Amava a Pária e queria ser fiel a Deus.

É neste contexto que deve ser entendida a sua mensagem, proclamada na 1ª Leitura deste Domingo (Jeremias 20,7-9). Nós, cristãos, temos vocação de profetas. “E a Palavra do Senhor tornou-se para mim ocasião permanente de insultos e zombarias.”

Também a cada um de nós, pelo Batismo, o Senhor dá a participação na sua missão profética. Jesus é a Palavra do Pai, transmitindo-nos a sua vontade; nós somos profetas de Jesus Cristo, anunciando, pela vida e pela palavra, os seus desígnios.

Para cumprirmos esta missão, temos necessidade de procurar formação doutrinal: Sagrada Escritura, Catecismo da Igreja Católica e outros meios de formação. Como poderíamos anunciar a vontade de Deus, se a não conhecêssemos?

Jeremias preparou-se cuidadosamente na escola do templo de Jerusalém para conhecer e proclamar a vontade do Senhor. Também nós somos chamados a ajudarmos os outros a caminhar ao encontro do Senhor, com uma palavra amiga, um conselho e, sobretudo, pelo testemunho de vida. Todos nós incumbidos pelo Senhor de sermos luz para os outros, fermento de um mundo novo. Não somos cristãos apenas dentro da Igreja.

No Evangelho deste Domingo (Mateus 16,21-27), Nosso Senhor nos ensina o valor do sofrimento. O sofrimento repugna-nos naturalmente e mete-nos medo. Jesus Cristo, no Horto, quis revelar-nos a sua fraqueza neste ponto. Também Ele pediu ao Pai que o livrasse da Paixão. Mas sobrepôs a esta repugnância a vontade do Pai e foi procurar força na oração.

Carregar a cruz de cada dia exige muito de nós. Exige renúncia

O primeiro passo desta renúncia é colocar a vontade de Deus acima da nossa, nas pequenas coisas de cada dia. Muitas vezes ficamos numa via meramente animal, comendo a todas as horas, quando nos apetece, satisfazendo todos os caprichos do corpo, etc. Quando, depois, vem uma tentação, não estamos preparados para enfrentá-la. (É nos exercícios repetidos que o desportista se prepara para as grandes provas).

Aceitemos a cruz da vida, sem descontos: no trabalho profissional bem feito, na dedicação aos filhos, na atenção e ajuda aos outros, na oração fiel de cada dia, etc.

Acolhamos o convite do Apóstolo São Paulo, na 2ª Leitura (Romanos 12,1-2): aprendamos a oferecer nossas vidas em sacrifício que agrade a Deus.

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