Casa Papa Francisco
Dia 18 de junho passado, inauguramos, na cidade de Santa Maria, a Casa Papa Francisco, onde estão residindo os freis da Fraternidade O Caminho. No coração da cidade, esta casa tem portas abertas para todos os que mais precisam. Especialmente a população em situação de rua lá poderá encontrar um banho quente, uma lavanderia disponível, pernoite e outros apoios. Sobretudo, este espaço visa ajudar cada irmão e irmã que sofre a resgatar sua dignidade humana. Esta dignidade todos temos, alguns, porém, perderam ou lhes foi negada tal condição.
Certamente há muitas iniciativas em nossa região que promovem a dignidade das pessoas empobrecidas. Recordo as muitas obras sociais que cuidam de crianças, jovens e idosos em situação de vulnerabilidade. Preciso mencionar os intensos esforços por uma educação mais humana e solidária em meios aos graves desafios que enfrentamos no campo educativo. Também merecem destaques: o cooperativismo, a economia solidária e os projetos sociais que transformam vidas e famílias.
Nesse contexto, com o apoio de tantas pessoas e entidades, a Igreja Católica em Santa Maria inspira-se no ensinamento e na prática do Papa Francisco para fortalecer a solidariedade. É urgente recuperarmos nossa capacidade de empatia, de colocar-nos no lugar do outro. Quem pode ficar tranquilo nesses dias frios de inverno, sabendo que pessoas estão na rua? Como sossegar se há quem não tenha como alimentar seus filhos? Como ler os altos índices de pobreza que crescem entre nós, sem procurar suas causas?
A Casa Papa Francisco poderá ser apenas uma gota de água neste oceano complexo da pobreza que desafia todo ser humano que vive nesta cidade, mas o mar seria menos sem essa gota. Assim, pensava Santa Teresa de Calcutá. Podemos fazer algo por alguém e hoje. Somos profetas da esperança, porque cremos que um mundo mais justo, solidário e fraterno é possível. Nós temos um só Pai, ainda que nem todos reconheçam. Não vivemos na orfandade e por isso somos impelidos à fraternidade.
Em 2013, afirmou o Papa Francisco: “Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até a humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo”. Com os irmãos da Fraternidade, espero que toda a Igreja de Deus que está em Santa Maria saia de si para se aproximar de quem precisa. Mas, espero que toda sociedade santa-mariense perceba que é urgente trabalhar sempre mais pelos pobres. Para isso, não existem muros ou fronteiras. Doar sempre faz bem. Como diz uma música do cancioneiro católico: “Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas”. Quem oferece, também ganha.
Convido, portanto, toda pessoa capaz de empatia e comprometida com o bem dos outros, a visitar a Casa Papa Francisco. Ninguém é tão pobre que não tenha algo a partilhar, e ninguém é tão rico que não careça de algo. Creio firmemente que muitas de nossas enfermidades se originam do nosso fechamento. Quanto mais saímos de nós mesmos, mais nos encontramos. Não podemos nos perder no emaranhado de um mundo ensimesmado.
Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria