Coerência
Toda a experiência cristã se fundamenta no encontro com a pessoa de Jesus Cristo. Conhecer a Jesus é o melhor que pode acontecer numa vida humana; fazê-lo conhecido enche o coração de alegria, pois quem encontrou a luz da vida não deseja que outros padeçam nas sombras da morte.
Por isso, o Cristianismo busca integrar a coerência entre a fé professada, celebrada e testemunhada. Tudo para permanecer no encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, que transforma a vida de quem crê, celebra e testemunha.
Professar a fé significa aceitar tudo o que Jesus ensinou com gestos e palavras no seu tempo e mandou que os seus discípulos ensinassem os outros a fazerem o mesmo. Trata-se, portanto, de crer perseverando no ensinamento dos apóstolos. Nesse sentido, a verdade para o cristão é Cristo, e tudo o que Ele diz merece fé.
Celebrar é ritualizar, em gestos, ritos e símbolos, o conteúdo da fé. Por meio das liturgias, os cristãos celebram a comunhão com Deus, as pessoas e a Criação. Celebram também o perdão recebido e oferecido. Pelas celebrações e orações, os cristãos buscam prestar o perfeito culto a Deus, que somente em Jesus Cristo é possível, fazendo tudo em memória d’Ele, tudo por Ele e n’Ele.
Uma fé acreditada e rezada somente é coerente se for testemunhada por um estilo de vida que expresse, historicamente, na sociedade, valores, posturas e condutas de acordo com o Evangelho de Jesus Cristo. Essa Boa Nova é mel na boca e fel no estômago, como diz a Sagrada Escritura. São palavras como o mel: doces, bonitas e cheias de vida, capazes de devolver a alegria, a paz e o sentido da vida e da história para quem crê. Entretanto, essas palavras são exigentes, pretendem coerência e exemplo de vida; parecem o fel porque nem sempre estamos dispostos a ceder diante de escolhas vazias e sem sentido que fazemos ao longo da vida.
As comunidades cristãs existem para ajudar toda pessoa a permanecer no encontro com Jesus Cristo. É o que denominamos evangelização. Temos a missão de anunciar o Evangelho para que seja vivido no cotidiano. Tudo o que é estranho a essa Boa Nova deve ser evitado e até combatido. A comunidade cristã deve ser sadia, saudável e terapêutica. Deve viver a liberdade dos filhos de Deus com alegria e fazer com que outros também experimentem essa libertação de todo vício e pecado. Deve curar, prevenir e extirpar o mal, que sempre é sedutor, mas igualmente sempre destrói a dignidade dos filhos e filhas de Deus. A comunidade deve promover a vida, a família e o bem comum.
A Igreja, portanto, existe para evangelizar, e nada pode se antepor a essa missão. Se as promoções que ocorrem em nossas comunidades prejudicarem a saúde das pessoas, ou atingirem a dignidade da família, promovendo sentimentos contrários ao Evangelho, isso precisa ser corrigido. A Igreja é uma casa de irmãos, onde tudo o que Cristo pede precisa ser crido, celebrado e testemunhado. Certamente, a coerência não é fácil de ser vivida, mas pior seria não a desejar e não educar as futuras gerações com esse propósito.
Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3