Comunidade São Roque dá boas-vindas aos venezuelanos
Chapada – A quinta-feira, 27 de setembro, foi atípica para a pequena Comunidade São Roque, de Chapada. A expectativa era grande para a chegada das famílias de venezuelanos. Os preparativos iniciaram ainda cedo. Tudo para bem acolher a quem veio de tão longe, em busca de uma vida melhor. O grupo chegou ainda durante a tarde no Aeroporto Salgado Filho em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Depois, eles foram levados em um ônibus do Exército para Chapada, que fica a 328 quilômetros da capital, onde chegaram por volta de 21h30, recebidos por muitas palmas. No rosto a expressão de cansaço da longa viagem, mas também de alegria de quem quer recomeçar.
“Minha expectativa como venezuelana, como mãe, é ter uma melhor qualidade de vida para mim, para meus filhos, e poder dar a eles um futuro melhor. Na Venezuela não teria um futuro muito bom pela situação econômica que está o meu país agora”, declarou Martiele Rodrigues, que veio com o marido e os filhos para morar no Brasil. A acolhida contou com cantos e oração, conduzida pelo padre Silveste, Pároco da Paróquia São José, que presenteou aos venezuelanos com bíblias em espanhol. “A saída dos venezuelanos do país deles acaba quebrando uma série de vínculos deles com a Pátria, com a província a qual eles fazem parte e o que é mais desmontador são os vínculos afetivos com parentes, com vizinhos e com amigos. E a função da Igreja é, junto com eles partilhando esse desmonte humano, refazer essa identidade, mesmo dentro desse quadro de saudade do país de origem. Acredito que a Palavra de Deus é o único elemento que melhor pode refazer essa identidade e dar uma raiz de confiança para a reconstrução humana, afetiva, cultural e de fé a Deus também”, destacou o padre.
Segundo o padre, o carinho da Comunidade de São Roque, das autoridades de Chapada os deixará à vontade e protegidos para se refazer. Pensamento que é reforçado pelos integrantes desta comunidade: “A gente está aqui para acolhê-los da melhor forma possível, essas pessoas vêm muito fragilizadas, porque acredito que eles saindo da terra deles eles devem deixar muita coisa pra trás e isso deve machucá-los muito, vir para um lugar distante, desconhecido. Nossa comunidade também vai acolhê-los nas celebrações, as portas da Igreja vão estar abertas, nós vamos também passar onde eles estarão abrigados para fazer o convite para que se sintam a vontade para participarem das celebrações dominicais da nossa comunidade. E para que assim possam se entrosar de uma maneira mais rápida e da melhor forma possível”, disse Carlos Rohr, Ministro da Eucaristia na comunidade.
Moradia na escola
Chapada acolheu 10 famílias, no total de 52 pessoas, que passarão a viver na comunidade São Roque. Segundo a professora Sandra Bays Schirmer, que foi uma das articuladoras no processo de vinda dos Venezuelanos para Chapada, a cidade está recebendo o número de famílias que pode comportar. “Optamos por receber famílias porque entendemos que quando vem o clã familiar, as relações ficam mais fáceis de se estabelecer com a comunidade que as recebe. A gente sabe que o preconceito existe, a xenofobia por mais que ela não seja visível, então quando vem a família com criança torna-se mais fácil. Nós não escolhemos as famílias, apenas dissemos a quantidade que tínhamos condições de receber”, explica.
O prefeito Carlos Catto, explica que o próximo passo é inseri-los no mercado de trabalho. “Vamos, agora na próxima semana já conhecer o perfil de cada família, de cada pessoa, de cada venezuelano para ver onde vamos inserir eles no mercado de trabalho. A gente vai vendo o perfil de cada um e eu conheço a cidade, conheço a nossa gente, conheço as empresas e temos certeza que nós vamos conseguir nos próximos dias colocar eles no mercado de trabalho, pois é isso que eles querem”, ressaltou. Aos poucos eles estavam bem entrosados e, se a língua atrapalhou um pouco no início, o que prevaleceu foi a linguagem do amor, através de muitos abraços. O pequeno Adrian Torres estava feliz e muito entusiasmado: “Estou feliz por estar viajando. Espero estudar, me sentir bem nessa comunidade e que meu pai trabalhe”.