Leigos e leigas: sujeitos na Igreja em saída, a serviço do Reino

Dom Aparecido Donizeti de Souza – Bispo auxiliar de Porto Alegre

No último domingo, 26 de novembro, em que celebramos a Solenidade de Cristo Rei, foi para nós da Igreja no Brasil a abertura do Ano do Laicato. Certamente este período será uma oportunidade a mais para maior compreensão da identidade, vocação e missão dos leigos e leigas na Igreja e no mundo.

Recordemos que em 2016, na 54ª Assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Aparecida, esse já foi o tema central abordado pelos bispos, cujas reflexões se encontram no Documento 105, intitulado “Cristãos Leigos e leigas na Igreja e na Sociedade, sal da terra e luz do mundo”. Esse documento nos recorda que “apesar dos avanços na caminhada da Igreja nas últimas décadas, temos ainda, no campo da identidade, da vocação, da espiritualidade e da missão dos leigos e leigas na Igreja e no mundo, um longo caminho a percorrer” (nº 9).

Em sintonia com o Concilio Vaticano II (LG, 31), os bispos insistem que “a realidade temporal é o campo próprio da ação evangelizadora e transformadora que compete aos leigos” (nº 63). Necessitamos de fato que os cristãos leigos e leigas possam fazer a diferença em todas as esferas da sociedade, ou seja, no mundo da educação, economia, política, cultura, ecologia e em tudo que diz respeito à vida humana. Precisamos deixar com que as palavras de Jesus nos interpele e, assim, sejamos verdadeiramente “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5, 13-14). É fundamental mantermos firmes a fé e a esperança de que o mundo pode ser transformado com a nossa presença cristã. Como nos diz o Papa Francisco, “não permitamos que nos roubem a esperança”.

Além dessa índole secular que é própria dos cristãos leigos e leigas, os mesmos são chamados a viverem sua vocação como sujeitos eclesiais. Segundo o Documento 105, “ser sujeito eclesial significa ser maduro na fé, testemunhar amor à Igreja, servir os irmãos e irmãs, permanecer no seguimento de Jesus, na escuta obediente à inspiração do Espírito Santo e ter coragem, criatividade e ousadia para dar testemunho de Cristo” (nº 119).

Mas, sem dúvida, este é um caminho que precisamos percorrer com maior determinação, pois “ainda persiste forte mentalidade clerical que dificulta a corresponsabilidade e a participação do leigo como sujeito eclesial” (nº 120). Sabemos que existe a tendência em alguns de nós, ministros ordenados, em querer centralizar tudo, mas também é muito comum ver em vários grupos de leigos uma dependência exagerada em relação ao pároco. Dá-se a impressão de que sem a presença do padre a coisa não caminha. Precisamos de uma conversão nessa direção, pois o potencial que os leigos e leigas possuem em fazer acontecer a obra de evangelização é muito grande. Claro que é fundamental um caminhar em comunhão e unidade.

Vale aqui lembrar novamente o Documento 105 quando diz que “assim como o leigo não pode substituir o pastor, o pastor não pode substituir os leigos e leigas no que lhes compete por vocação e missão. Além disso a ação dos cristãos leigos e leigas não se limita à suplência em situação de emergência e de necessidades crônicas da pastoral e da vida da Igreja. É uma ação especifica da responsabilidade laical que nasce do batismo e da confirmação”.

Saibamos aproveitar, portanto, este Ano do Laicato para que nossa Igreja se fortaleça e cresça verdadeiramente como discípula, missionária, misericordiosa e profética em meio ao mundo em que vivemos.

 

Deixe um comentário