Ipê acolhe mais de 4 mil romeiros na 46ª Romaria da Terra

O calorão dos dias anteriores e a chuva que caía, ora mansa, ora mais intensa em todo o Estado, não assustou os romeiros e romeiras que rumaram para Ipê, na Diocese de Vacaria, em vista da 46ª Romaria da Terra. Com o tema “Escutar a Mãe Terra e com Maria cuidar da vida”, a romaria reuniu fieis de todo o Estado na capital nacional da agroecologia.

Durante o trajeto, os cenários de quatro paradas ajudaram a escutar a Mãe Terra e apontaram pistas para o cuidado com a vida. Na primeira parada, os romeiros contemplaram o cenário com o tema “Ver e ouvir o que fere a Mãe Terra”. Já a segunda parada, provocou para a agroecologia, enquanto a terceira motivava para o pacto de amor pela vida de Francisco e Clara. Por fim, a última parada apresentou a reflexão sobre o cuidado com a vida e a luta das mulheres.

A acolhida aos romeiros e romeiras aconteceu logo cedo na comunidade Nossa Senhora de Lourdes, ponto de partida da caminhada até o campo do Seminário de Ipê, no centro da cidade. Na chegada, dom Sílvio Guterres Dutra, bispo diocesano de Vacaria, presidiu a celebração eucarística.

Um dos destaques desta 46ª Romaria da Terra foi a homenagem especial a dom Orlando Dotti, bispo emérito de Vacaria. Dom Orlando foi especialmente saudado e reconhecido por sua incansável contribuição com diversos movimentos sociais da região e de todo o Estado. Na ocasião, líderes de diversos movimentos e pastorais prestaram a sua homenagem e realizaram o lançamento do projeto de elaboração de dois livros sobre a sua vida e missão.

Após as homenagens, dom Orlando agradeceu e disse que apenas procurou manter-se fiel às suas raízes. “Sou filho de colono, tenho cara de colono, tenho voz de colono, e tenho coração de colono. Quando eu digo colono, eu estou incluindo todos os que trabalham na terra, e qualquer maneira que trabalham, mas privilegiando principalmente aqueles que trabalham de uma forma ecológica, no trabalho principalmente familiar”, afirmou.

Carta da 46ª Romaria da Terra

Fruto tradicional das Romarias da Terra no Rio Grande do Sul, a carta desta 46ª edição provoca para a denúncia e o anúncio. Segundo o documento é preciso denunciar:

– a economia concentradora e injusta que acoberta a invasão das terras indígenas no Brasil;
– toda forma de violência contra os povos mais humildes, especialmente as mulheres;
– o uso indevido de venenos na agricultura, com a liberação indiscriminada de agrotóxicos;
– a ideologia da meritocracia que discrimina os menos favorecidos;
– o uso e a manipulação de Deus para justificar a opressão e a manipulação do povo.

Por outro lado, a carta reforça a necessidade de anunciar:

– a Reforma Agrária, a agricultura familiar e agroecologia como meios para a justiça social;
– a partilha, o associativo e o comunitário como construtores de uma sociedade saudável e justa;
– a participação do povo de forma consciente como forma de gestar a paz e o sadio convívio;
– a agroecologia e as sementes crioulas como bandeiras permanentes;
– a produção e consumo de alimentos agroecológicos e orgânicos;
– o irmão indígena Sepé Tiaraju como inspirador e mártir na luta pela Reforma Agrária;
– os jovens organizados e conscientes como sinais de esperança;
– as mulheres organizadas como protagonistas da vida e da esperança;
– as comunidades de fé e convívio como alento e impulso para os /as filhos/as de Deus.

Confira a Carta da 46ª Romaria da Terra na Íntegra:

 

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