Jesus Cristo, o profeta do Pai
A 1ª Leitura deste Domingo (Ezequiel 2,2-5), nos mostra a vocação do profeta Ezequiel, como profeta do Senhor. O profeta é chamado por Deus para uma missão sempre exigente, trabalhosa e difícil. Ele deve ter consciência da sua responsabilidade. Apesar da sua fragilidade, Deus o escolheu e o enviou. A mensagem que irá transmitir não é sua. Por isso, lhe é pedida capacidades de escuta, docilidade e fidelidade no anúncio, no ensino e no testemunho. Perante tal missão e na consciência da sua pobreza e fragilidade, ele deve munir-se de profunda confiança em Deus; ser pessoa de oração e de escuta da Palavra de Deus; deve possuir também consciência de solidariedade e se preocupar com o destino dos outros. E na fidelidade à verdade da mensagem, estar disponível para se fazer doação total, dando, se for necessário, a própria vida.
A mensagem que Deus lhe pede é de convite à conversão, purificação na vivência da Aliança, anunciador da santidade e da beleza de Deus, trabalhador incansável da sensibilidade para com o sofrimento humano, libertador dos esquemas de morte, dinâmico colaborador no apontar para o Messias prometido.
Quase sempre, na boa tradição profética, o esperará o desprezo, a rejeição, a eliminação, a perseguição e, às vezes, a própria morte. Jesus Cristo apresenta-se com o Profeta do Pai.
O texto do Evangelho de hoje (Marcos 6,1-6) apresenta-nos a sua dignidade, a sua serenidade e a novidade das suas atitudes e palavras, no cumprimento da mais genuína tradição profética.
O filho do carpinteiro, sem nome, talvez para referir-se a José, que já não vivia e para o salientar como o «filho de Maria»: assim o evangelista apela à sua concepção virginal e à sua divindade, que realçam o quanto o nosso Deus amou a nossa humanidade e se fez igual a nós.
Também se salienta que não são as roupas ou as profissões que traduzem a grandeza da pessoa, mas a sua dignidade pessoal e o serviço. Nesta atitude inspirada por Deus, se revoluciona radicalmente a sociedade. Deus fala-nos por seu Filho. E quantas vezes o Pai dá testemunho dele e nos pede para o escutarmos!
E também o Espírito Santo dá testemunho de Jesus, ao conduzir-nos ao ato mais belo da nossa fé: crer que Jesus Cristo é o verdadeiro Filho de Deus e Filho de Maria.
E São Paulo, na 2ª Leitura (2 Coríntios 12,7-10) nos dá um testemunho belo de profunda confiança em Deus, que mesmo nas fraquezas humanas, se manifesta dando-nos a sua Graça de Salvação.
Assim, hoje aprendemos que em Cristo, mensageiro e mensagem se identificam. Ele comunica por palavras e por gestos a novidade do amor de Deus. Através dele recebemos a Salvação e a vida eterna. A Palavra de Deus chega hoje até nós através da palavra humana, de pessoas que, mesmo em suas fragilidades humanas, nos apresentam garantias, sendo testemunhas credíveis.
Pelo batismo, em nós nasceu a vocação do profetismo. Ser pessoa em quem Deus confia os seus mistérios de amor: anunciando e denunciando; construindo e destruindo. O encontro com Cristo não é um acontecimento meramente pessoal, fechado no âmbito de uma espiritualidade amuralhada e egoísta. Pelo contrário, o encontro e a relação pessoal com Cristo é dinamismo de caminhada, de construção e de anúncio de uma maravilhosa notícia: o Evangelho ao serviço e como proposta para todos.
A consciência de ser profeta desperta a pessoa para um cristianismo vivo, dinâmico e audaz. Um cristianismo dos sentidos, isto é, tudo deve ser afirmação responsável da realização do projeto de Deus. Todos os sentidos devem estar despertos para auscultar os sinais, pelo impulso do Espírito Santo, e serem colocados ao serviço eficiente do Evangelho. Também a inteligência especulativa e emocional devem ser «centrais» dinamizadoras da inteligibilidade da fé e de propostas sérias e convincentes do Evangelho. Mas, sobretudo, uma vida de autêntica fé que leva a superar as dificuldades com o júbilo do Espírito Santo. E necessariamente a vida de oração, beleza da vida pessoal e comunitária com os «olhos» e «coração» de Deus.
Procuremos assumir, como batizados, nossa missão profética no meio do mundo.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen