O esclarecimento familiar
A Igreja, no século XX, começou a dedicar muita atenção, estudo e empenho pastoral à família. Elaborou uma espiritualidade especificamente familiar e conjugal. Antes da crise familiar se desenvolvia uma espiritualidade, por assim dizer, pessoal. O mesmo acontecia também com a moral: eu e Deus; eu e os outros; eu e o mundo; eu no meu. A família não apresentava maiores problemas. Era uma instituição natural, baseada sobre um sacramento, de acordo com um plano de Deus. Tinha consistência em si mesma, como célula da sociedade. Tratava-se, radicalmente, de uma questão pessoal. A sociedade lhe dava garantias e amparo. O regime de Cristandade criara uma mentalidade não só favorável ao matrimônio cristão e à família, mas também proporcionava uma solidez de estrutura impérvia ao arbítrio dos indivíduos. A família e o matrimônio constituíam uma instituição na qual ninguém ousava mexer.
Com a crise, que assolou a família na sociedade secular, sentiu-se a necessidade de socorrê-la com novos meios, principalmente de reflexão, de espiritualidade e de pastoral. Surgiram as pastorais familiares, com seus respectivos movimentos, cursos, trabalhos e associações. Introduziu-se um curso específico e obrigatório para os noivos, desejosos de casar na Igreja. Reconheceu-se que a família não mais prepara suficientemente seus membros para o casamento cristão nesta época moderna.
O Concílio Vaticano II, assim como debateu amplamente a natureza e estrutura da Igreja, empenhou-se no estudo da família. Colocou-a, como não poderia deixar de fazer, no contexto da atuação e da presença da Igreja no mundo contemporâneo, no documento que recebeu o título significativo de “Constituição pastoral Gaudium et spes”. Mas não poderia deixar de inserir este tema na problemática da própria Igreja, na “constituição dogmática Lúmen gentium”; e, muito menos, no seu Decreto sobre o Apostolado leigo Apostolicam actuositatem; bem como no Decreto sobre o Ministério e a vida dos Sacerdotes, Presbiterorum ordinis.
Em 1880 o Papa Leão XIII escrevera a encíclica Arcanum divinae sapientiae sobre o matrimônio cristão, abrindo uma famosa série de escritos pontifícios sobre o tema. Em 1891 o mesmo Papa abria outra série de documentos eclesiais sobre a questão social, com a encíclica Rerum novarum. Pio XI continua ambas as séries, respectivamente com a Casti Connubii, sobre o matrimônio cristão em 1931 e a Quadragésimo Anno, sobre a questão social, também em 1931.
O Papa S. João Paulo II convocou um sínodo dos Bispos para estudo do problema da família. Em 1981 publicou seus resultados na exortação apostólica pós-sinodal Familiaris Consortio. Começa dizendo que a família, nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade de da cultura (Fc 1). Por ocasião do Ano da Família de 1993, o mesmo Papa escreveu uma longa carta às famílias. Nela agradece a Deus o tríplice dom: do amor, da família e da vida. Diz que da fonte, que é o Senhor, a família extrai sua energia para construir a civilização do amor.
Como se isto não bastasse, exatamente porque a crise da família continua se alastrando, o Papa Francisco convocou dois Sínodos dos Bispos sobre o mesmo tema. Deu a público seus resultados com a Exortação Apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia. Inicia com esta boa nova: A alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja… O anúncio cristão sobre a família é verdadeiramente uma boa notícia (A l. 1).
Para não ficar apenas nos escritos, a Santa Sé criou um Pontifício Conselho para a Família, em Roma. permanentemente acompanhando e aprofundando o tema da família. Edita numerosos estudos sobre o assunto para deixar os católicos bem informados. Lembremos Família, vida y nueva evangelizacion, do Card. Alfonso Lopes Trujillo, Presidente deste Conselho; La Famiglia, dono e impegno, speranza dell’Umanità, atti del Congresso Internazionale…
Para desenvolver este amplo tema, se inicia propondo os grandes princípios para ajudar nesta interpretação, em dois tópicos,. Segue o núcleo central do Matrimônio cristão: sua teologia, suas propriedades, finalidades e compromissos.
Convém estacar também as condições para um casamento cristão, a fim de ajudar na opção tanto absoluta, frente à vida matrimonial, como relativa, referente à escolha da parceria.
Convém, neste contexto, elaborar a espiritualidade familiar, com destaque à igreja doméstica e à fidelidade espiritual, falando também do investimento que lhe deve ser proporcionado.
Será preciso ainda aprofundar a situação da família na sociedade hodierna, com seus desafios e suas colaborações, bem como dedicar um estudo ao Evangelho da Família, em sua dimensão pessoal, na preparação para a convivência conjugal e na educação dos filhos.
Por fim não é possível deixar de enfrentar os casos especiais, que hoje recebem atenção especial. São cada vez mais freqüentes e angustiantes, a ponto de afastarem muitas pessoas da Igreja.
PARA REFLETIR
- Por que se criaram pastorais especificamente familiares?
- Como a Igreja trata a família hoje?
- Quais são os principais desafios da família a merecerem estudo especial?