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O uso das riquezas materiais

Na mentalidade do Antigo Testamento, a riqueza material é considerada uma benção de Deus, um sinal de sua generosidade, da abundância que Deus concede àqueles que são fiéis à sua Lei. Assim, encontramos personagens que foram agraciados, de alguma forma, com as bençãos de Deus manifestadas na fartura de bens: Abraão, Isaac, Jacó, Jó, Davi, Josafá, Ezequias e outros.

Jesus nos ensina uma nova perspectiva de comportamento diante das riquezas materiais. Especialmente nas bem-aventuranças e no Sermão da montanha, Nosso Senhor põe em relevo o dom total de Deus, que não é medido por aquilo que se tem, mas sim pela disponibilidade e a capacidade de desprendimento: para conseguir a pérola preciosa ou o tesouro encontrado na vida, que é o Reino de Deus é preciso vender tudo, ou seja, desapegar-se de tudo, ter um coração livre e desimpedido. Jesus ensina que não se pode servir a dois senhores, na vida. As riquezas materiais às quais se tem apego e nas quais se coloca a segurança da própria existência acabam se transformando em tirania e em escravidão. O dinheiro é um patrão exigente: ele sufoca, na vida do avarento, o Evangelho. Somente quem se faz pobre, desapegado de seguranças humanas é capaz de abraçar o Evangelho da vida e da salvação.

A 1a Leitura da Missa deste Domingo é tirada do Livro da Sabedoria (Sabedoria 7,7-11). O texto nos apresenta uma reflexão do que se deve pedir a Deus, para se obter a verdadeira felicidade. O autor sagrado nos ensina a pedir um coração dócil, a capacidade de sermos justos e também o discernimento do bem e do mal. Estes valores contradizem os valores que o mundo nos apresenta como necessários para se obter a verdadeira felicidade.

O Salmo de resposta da Palavra de Deus é o Salmo 89. Nele pedimos a Deus que nos preencha com seu amor. Somente o amor de Deus acolhido pode nos dar a verdadeira alegria.

No trecho da 2a Leitura, tirado da Carta aos Hebreus (Hebreus 4,12-13), o autor sagrado nos ensina a necessidade de não sermos meros ouvintes da Palavra do Senhor, mas que a acolhamos com docilidade. Trata-se de uma Palavra viva, operante, ativa, que é um julgamento da vida de quem a escuta. Nossa vida, neste mundo e no tempo futuro dependem do acolhimento ou não desta Palavra de Salvação.

O Evangelho deste Domingo (Marcos 10,17-30) nos ensina que, para seguirmos efetivamente a Jesus, não é suficiente o exato cumprimento dos Mandamentos da Lei de Deus. É preciso mais do que isto. Jesus é exigente, porque nos quer felizes. Por isso, o desapego daquilo que prende e amarra o nosso coração é uma condição preliminar para fazer, na vida, um caminho com Jesus.

Somente poderemos chegar a experimentar a autêntica liberdade frente aos bens desta terra seguindo a Jesus, se formos capazes de nos desapegar de tudo aquilo que aprisiona o nosso coração.

A Eucaristia que recebemos é o alimento que nos ajuda neste processo de libertação das coisas materiais. Receber o Corpo e o Sangue do Senhor nos torna mais capazes de nos livrar de qualquer tipo de apego que nos afaste do Senhor.

Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen