Peregrinos da esperança

 

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Como cristãos e peregrinos deste mundo, devemos cultivar a esperança de que, apesar de todos os acontecimentos que podem agredir e ferir a vida e a dignidade do ser humano, o Reino de Deus está entre nós; mesmo com todas as tentações, privações, perseguições e o cansaço que muitas vezes sentimos, ou a que somos submetidos na peregrinação da vida.

Olhando a realidade do mundo em que vivemos, com guerras e tantas outras formas de violência, que causam sofrimentos e miséria, você pode até discordar da afirmação de que o Reino de Deus está presente em nosso meio. Mas não podemos esquecer que Deus é amor e o amor é eterno. Deus nos criou para sermos livres, e por ele somos amados, como filhos e filhas.

Toda festa importante requer uma preparação do ambiente e também dos convidados que irão participar. Neste sentido, a Igreja nos propõe a Quaresma como um tempo para percorrermos um caminho de conversão e renúncias, para vencermos o egoísmo e fortalecermos a fé. Por isso, a Quaresma deve ser vivida à luz da Páscoa, porque é no Cristo ressuscitado que reside a síntese perfeita do amor infinito do Pai. É nele que a pessoa de fé encontra a força nas turbulências e nas adversidades da vida.

Neste tempo de preparação para a Páscoa, não podemos esquecer o perdão e a reconciliação, eles nos remetem à misericórdia do Pai e nos ajudam a recuperar a paz interior. Esta é fundamental para a nossa vida de fé, porque nos leva a olhar os outros com os olhos do amor de Deus.

A falta de perdão e reconciliação, conosco mesmo, com os irmãos e com Deus, consome muitas das energias da nossa vida, nos enfraquece fisicamente e nos destrói espiritualmente. Por isso, o homem reconciliado é um homem renovado, porque tocado pela graça do perdão de Deus.

O amor é o principal mandamento cristão, mas o amor sem a misericórdia não daria espaço para a reconciliação e a comunhão. Por isso, crer em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado significa acreditar que o amor está presente no mundo e é mais poderoso que o ódio e a violência, mais poderoso que qualquer mal que possa envolver o ser humano. Acreditarmos na força do amor, que nos aproxima do Pai e dos irmãos, é fundamental para iniciarmos um caminho de conversão, que nos leve à reconciliação com nós mesmos, com os irmãos e com Deus.

Neste sentido, é importante termos presente em nossa vida o amor que se revela na misericórdia, para criarmos uma nova cultura de valorização da vida. Quando tomarmos consciência da grandeza e da beleza de sermos filhos e filhas de Deus, não aceitaremos mais que as pessoas sejam privadas da sua dignidade, humana e divina.

A autenticidade da nossa vida interior é dada pelo testemunho, feito através daquela caridade que abre as portas do coração para horizontes infinitos de possibilidades, para fazer o bem. “Quem ama o seu irmão cumpriu toda a lei”, porque somente o amor é o seu verdadeiro cumprimento, nos recorda o Apóstolo São Paulo, na Carta ao Romanos (Rm 13,8-10).

 

Dom José Gislon, OFMCap. – Bispo Diocesano de Caxias do Sul